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O que é o 'episódio triplo' de La Niña que preocupa a ONU


CyberLady
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Segundo as Nações Unidas, há 70% de probabilidade de que o fenômeno continue durante os meses de setembro e novembro deste ano e 55% de chance de se estender até fevereiro de 2023

BBC News Brasil

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) alertou que existe o risco de 2022 ter o terceiro episódio consecutivo do fenômeno climático La Niña.

 

A agência meteorológica da Organização das Nações Unidas (ONU) alertou que há 70% de probabilidade de que esse fenômeno continue durante os meses de setembro e novembro deste ano.

 

Se isso acontecer, será a primeira vez neste século que há um "episódio triplo" do La Niña.

O prolongamento do La Niña agravará a seca no Chifre da África, que ameaça a subsistência de cerca de 18 milhões de pessoas, alerta a OMM
O prolongamento do La Niña agravará a seca no Chifre da África, que ameaça a subsistência de cerca de 18 milhões de pessoas, alerta a OMM - Getty Images

O fenômeno climático atual teve início em setembro de 2020.

Se durar até o final do ano, atingirá três invernos consecutivos, razão pela qual é considerado um "episódio triplo".

A OMM também estimou que há 55% de chance de que o La Niña continue até fevereiro de 2023.

 

O que é a La Niña?

Os fenômenos La Niña e El Niño são as duas fases opostas do mesmo padrão climático, conhecido entre os cientistas como El Niño-Oscilação Sul (Enso).

 

O Enso é um fenômeno natural em que a temperatura superficial no Oceano Pacífico, próximo da Linha do Equador, se altera. E isso tem consequências importantes para o clima ao redor do planeta.

 

O El Niño é a fase quente e geralmente aparece primeiro.

 

Ele ocorre quando as condições de pressão do ar mudam, enfraquecendo os ventos alísios no Hemisfério Sul do Pacífico.

 

Assim são conhecidos os ventos que costumam soprar de leste a oeste naquele oceano, desde regiões subtropicais de alta pressão até zonas equatoriais de baixa pressão.

Arte mostra o aumento da temperatura de águas do oceano Pacífico causado pelo El Niño
Arte mostra o aumento da temperatura de águas do oceano Pacífico causado pelo El Niño - BBC/Nasa/MUR SST

Os ventos alísios transportam águas superficiais quentes da zona equatorial da costa da América do Sul em direção à Ásia, do outro lado do Pacífico.

 

Isso faz com que as águas das profundezas, que são mais frias, subam em direção à superfície.

 

Mas quando esses ventos enfraquecem, ou sopram na direção oposta, eles carregam água quente do Sudeste Asiático para a América do Sul.

O La Niña é justamente o oposto: quando os ventos alísios são muito fortes, a subida das águas frias profundas é acelerada e a temperatura do mar cai abaixo do normal.

 

É por isso que o La Niña é considerado a fase fria do fenômeno.

Arte mostra a queda da temperatura de águas do oceano Pacífico causada pelo La Niña
Arte mostra a queda da temperatura de águas do oceano Pacífico causada pelo La Niña - BBC/Nasa

Geralmente, entre as duas fases, há um período conhecido como "zona neutra", em que nenhum dos dois eventos são notavelmente ativos e as temperaturas ficam na média.

 

O climatologista Alfredo Alpio Costa, especialista em mudanças climáticas do Instituto Antártico Argentino, explica que o Enso é bem irregular. Os ciclos de início do El Niño e o término do La Niña podem demorar entre dois e sete anos.

 

Mas esses dois fenômenos nem sempre se alternam de forma regular. Às vezes, como está acontecendo agora, apenas uma das fases se repete várias vezes, sem que o oposto apareça.

 

"Faz muitas décadas que não vemos três Las Niñas consecutivos", observa o especialista.

As consequências

Costa destaca que o Enso gera impacto em grande parte do mundo porque "a extensão do Oceano Pacífico equatorial é tão vasta que acaba afetando os padrões climáticos em escala global".

 

Sobre o La Niña, ele afirma que o evento provoca mudanças nas Américas, na Ásia, na África e na Oceania, "mas não tanto na Europa", onde o clima é afetado por outros fatores meteorológicos.

 

"Os efeitos do La Niña no mundo são muito variados: no leste da Argentina, no sul do Brasil e no Uruguai, produz seca", detalha.

A foto mostra uma região alagada. Só é possível ver um banco quase submerso. O La Niña provoca mudanças climáticas nas Américas, na Ásia, na África e na Oceania. Em alguns pontos, leva à seca, em outros, ao aumento de chuvas
A foto mostra uma região alagada. Só é possível ver um banco quase submerso. O La Niña provoca mudanças climáticas nas Américas, na Ásia, na África e na Oceania. Em alguns pontos, leva à seca, em outros, ao aumento de chuvas - Getty Images

"Porém, no nordeste do Brasil, no norte da Austrália e no sudeste da Ásia é o oposto, com aumento das chuvas. E partes de China, Índia e Japão, além do oeste do Canadá e sul do Alasca (EUA) acabam afetadas por temperaturas mais baixas do que o esperado", diz.

 

"A África Oriental também é atingida pela seca", alerta.

 

Num relatório sobre "o primeiro episódio triplo de La Niña deste século", o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, destacou o impacto que o fenômeno terá neste continente.

 

"Infelizmente, os dados mais recentes sobre o La Niña confirmam projeções climáticas regionais que apontavam para um agravamento da devastadora seca no Chifre da África, cujas consequências afetarão milhões de pessoas", escreve.

 

Estima-se que 18 milhões de indivíduos enfrentam fome severa como resultado da pior seca da região em 40 anos.

O Chifre da África está passando pela pior seca em 40 anos
O Chifre da África está passando pela pior seca em 40 anos - Getty Images

Mudança climática?

A ONU esclarece que o Enso não é causado pelas mudanças climáticas.

 

"Trata-se de um fenômeno natural recorrente que vem acontecendo há milhares de anos", diz a agência.

 

No entanto, ela destaca que "alguns cientistas acreditam que [El Niño e La Niña] podem se tornar mais intensos e/ou mais frequentes como resultado das mudanças climáticas, embora ainda não esteja 100% claro exatamente como isso tudo acontece".

 

"As mudanças climáticas provavelmente afetarão o El Niño e o La Niña, em termos de eventos extremos. Pesquisas adicionais ajudarão a separar a variabilidade climática natural de quaisquer tendências relacionadas às atividades humanas", conclui o relatório.

 

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