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A Matrix de Carl Jung


Oragah
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Análise da trilogia de filmes The Matrix a partir dos estudos de Carl Jung, com elementos do Estruturalismo e do Pós-Estruturalismo como base comparativa. Texto produzido por Acid Zero, Thalita Silva e João Batista, do blog Saindo da Matrix.

Adianto que um conhecimento prévio dos filmes é essencial para a compreensão do artigo:

 

Carl Jung

 

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Carl Gustav Jung era um jovem psiquiatra de Zurique na época em que conheceu e ficou fascinado pelo revolucionário psicanalista Sigmund Freud, no começo do século passado. A admiração mútua durou pouco mais de uma década, tendo os dois rompido relações por incompatibilidades pessoais e intelectuais, principalmente pela rejeição de Jung ao pansexualismo, no qual Freud via o homem como animal sexual, sendo a sexualidade a principal causa dos distúrbios psicológicos.

 

Para Jung, o comportamento humano é condicionado não somente pela sua história individual, mas também pelos seus alvos e aspirações (teleologia). O passado como realidade, e o futuro como aspiração/potencialidade dirigem o comportamento presente.

 

A forma do mundo em que o homem nasceu já está dentro dele como imagem virtual. — Carl Jung

 

The Matrix

 

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No primeiro filme, The Matrix, Neo aprende a viver por sua aspiração, que é primeiro libertar-se de algo que ele não conseguia ver ou saber, mas cuja opressão ele podia sentir em sua alma. Ele buscou essa libertação desesperada e inconscientemente, e foi ajudado por Morpheus e Trinity a sair da Matrix. Após o conhecimento do que o subjugava, sobreveio o medo, e a pequenez diante do poder do carcereiro (no caso, as máquinas). Precisou, novamente, de ajuda externa, na figura de Oráculo, que progressivamente o ensinou que buscar os seus objetivos é como respirar (ou amar): não deve haver dúvidas se você pode ou não pode, você apenas respira (ou ama) e aquilo é o natural. Sua mente, enganada (e subjugada) pelas máquinas durante toda a vida, poderia novamente ser enganada (e subjugada) por uma força ainda maior: ele mesmo. Inicia-se todo um esforço de desprogramação (desintoxicação) das limitações que o cerceavam na Matrix.

Foi em um momento de absoluta necessidade, quando não havia espaço para o raciocínio lógico, que uma parte do poder de Neo aflorou, e ele salvou Trinity da queda no helicóptero numa seqüência de acontecimentos que poderíamos chamar aqui de Sincronicidade, onde cada ação ocorreu em seu momento certo, da forma correta. Embora ele tenha tido este momento de epifania, dúvidas ainda pairavam em sua mente, dúvidas essas que o levaram ao erro (a bala que passou de raspão ao tentar desviar) e foi preciso que seu corpo na Matrix morresse (simbólica e literalmente) para que uma nova consciência pudesse despertar. Essa nova consciência, finalmente liberta das amarras da ilusão (Matrix), escolheu ensinar a humanidade o poder dessa libertação.

 

Assim termina o primeiro filme, que retrata um combate não externo, mas interno, contra a ilusão que nubla a própria mente consciente, ou ego, como veremos nos estudos de Carl Jung:

 

Ego ou mente consciente:

 

É o responsável por nossos sentimentos de identidade e continuidade e, do ponto de vista da própria pessoa, é encarado como sendo o centro da personalidade. O budismo procura justamente aniquilar o ego, essa falsa

percepção de identidade. O ego não foi produzido pela natureza para seguir ilimitadamente os seus próprios impulsos arbitrários, e sim para ajudar a realizar, verdadeiramente, a totalidade da Psique. Se, por exemplo, possuo algum dom artístico de que meu ego não está consciente, este talento não se desenvolve, e é como se fora inexistente. O ego é como o boi da parábola Zen, é a tração. Mas não confunda: o boi não guia, é guiado pelo cocheiro, mas, na maioria das vezes, nós mesmos deixamos o boi tomar o rumo que ele quer.

 

Inconsciente individual:

 

Onde ficam as experiências que foram reprimidas, suprimidas, esquecidas ou ignoradas, e também experiências muito fracas para marcar a consciência do individuo. É aí que se encaixam os Complexos, que são grupos organizados de sentimentos, percepções e memórias, que ficam no inconsciente, mas atuando de forma determinante no consciente, podendo atuar até mesmo como uma personalidade autônoma, usando a psique para seus próprios fins.

 

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Inconsciente coletivo:

 

É o alicerce de toda a estrutura da personalidade. Sobre ele estão erigidos o ego, o inconsciente individual e todas as outras aquisições individuais. Jung vê a personalidade como um produto do passado ancestral, sendo o homem moderno concebido e moldado pelas experiências acumuladas de gerações passadas, recuando até as origens obscuras e desconhecidas da humanidade. Segundo ele, o homem nasceu com muitas predisposições (legado de seus ancestrais) que dirigem sua conduta e determinam, em parte, aquilo de que ele tomará consciência e a que responderá em seu próprio mundo de experiências. Ou seja, uma personalidade coletiva, que atua seletivamente no mundo da experiência e é modificada e elaborada pelas experiências que recebe (assim como o conceito de egrégora, só que, no caso de Jung, mais determinante e menos intuitiva). Uma personalidade individual, nesse caso, seria o resultado da interação de forças internas e externas. Mas ele deixa espaço para a individualidade, pois se assim não fosse, não haveria lugar para a variação e o desenvolvimento. Assim como Jung, o estruturalista Claude Lévi-Strauss também acreditava que o espírito era influenciado por uma energia superior inconsciente.

 

Acredito que o inconsciente coletivo seja, na verdade, uma abordagem mais científica para a reencarnação (tema carregado de profundo significado religioso e tabu até hoje para os cientistas), que Jung conhecia bem, mas preferiu deixar de fora de suas conclusões. Ele narrava que, nas suas viagens pela Europa, antes de chegar a determinado lugar, tinha a impressão nítida de que antes houvera estado ali. Conhecia detalhes, hábitos, cultura e, ao chegar, para sua surpresa, verificava que aquela percepção era verdadeira. Naturalmente, sua abordagem foi psicanalítica.

 

 

The Matrix: Reloaded

 

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O conhecimento baseia-se não somente na verdade, mas no erro também. — Carl Jung

 

No segundo filme, Neo é alçado a um patamar de semi-Deus pelos seus amigos e habitantes de Zion. Não apenas ele libertou-se, como dominou o código da Matrix. Neo fica um pouco desconfortável com o assédio, mas seu ego se acomoda bem à posição de Super-Homem, e sua autoconfiança dentro da Matrix é visível, e perigosa. Vejamos o que Jung tem a dizer sobre os papéis que tomamos para nós mesmos e para a sociedade:

 

Arquétipos:

 

São imagens recorrentes no inconsciente coletivo (formas-pensamento), que expressam e definem uma situação. São mais que um ícone, pois contêm uma grande carga de emoção (além da informação) que é transmitida a quem vê. Ex: Jesus na cruz simboliza um arquétipo de ser bondoso que sofreu injustamente e resignado, o que causa um efeito anestésico (inconsciente) em quem está passando por provações (por identificação). Já a andrógina e decidida Trinity se tornou (pra muitos) um arquétipo feminino desta geração, assim como sensual e produzida Marilyn Monroe o foi para a geração dos anos 60. Uma vez que esses arquétipos são assimilados pela pessoa, são trabalhados individualmente, podendo até assumir o controle da personalidade (no caso da Sombra). Não é preciso entrar em contato sensorial com o arquétipo para que eles atuem, já que cada indivíduo nasce com acesso a toda a “biblioteca de Arquétipos”, via Inconsciente Coletivo.

 

Persona:

 

É a máscara usada pelo indivíduo em resposta às convenções e tradições sociais e às suas próprias necessidades arquetípicas internas. É o papel que a sociedade lhe atribui, que espera que você represente na vida. O propósito da máscara é produzir uma impressão definitiva nos outros e, muitas vezes (embora não obrigatoriamente) dissimula a verdadeira natureza do indivíduo, em oposição à personalidade privada, que existe por trás da fachada social. Se o ego se identificar com a persona, como freqüentemente o faz, o indivíduo terá mais consciência do papel que está representando do que de seus sentimentos genuínos. Será sugado pelo personagem, tornando-se um alienado de si mesmo e toda a sua personalidade toma um aspecto superficial e bidimensional (a persona assemelha-se, em certos casos, ao superego categorizado por Freud). O pós-estruturalismo veio reforçar a idéia do papel como esvaziador da potência do indivíduo, como um chefe que se deixa tomar pela importância do cargo, ou homem/mulher que sofre ou se anula em prol de um símbolo, que é a família ou o casamento. Lidamos com esses símbolos todo dia, seja em casa (com o pai, irmão), seja na rua (com o guarda), nos afazeres (com o professor, o chefe), até mesmo indiretamente (como o governador e o presidente), os símbolos se interpõem entre nós e as pessoas, assim como um software de computador nos apresenta um conjunto de símbolos que intermedia nossa comunicação com o processador da máquina.

 

Mais cedo ou mais tarde tudo se transforma no seu contrário. — Carl Jung

 

Continuando o filme, surge o combate de Neo com Smith. Neo fica surpreso em ver como ele está mais forte, e tem de fugir para não perder o combate. Aqui fica claro que há uma estreita relação entre os dois, que ambos podem intuir, mas, como ambos se detestam, não podem compreender as implicações de que um é instrumento de evolução do outro.

 

Sombra:

 

O arquétipo da Sombra é o lado escuro da mente, moradia do inconsciente. Lá estariam guardados os instintos animais que o homem herdou de espécies primitivas na evolução, e também as funções menos utilizadas da personalidade. É representada pelas idéias, desejos e memórias que foram reprimidos pelo consciente, por ser incompatível com a Persona e contrárias aos padrões morais e sociais. Quanto mais forte for nossa Persona, e quanto mais nos identificarmos com ela, mais repudiaremos outras partes de nós mesmos. A Sombra representa aquilo que consideramos inferior em nossa personalidade e também aquilo que negligenciamos e nunca desenvolvemos em nós mesmos. Em sonhos, a Sombra freqüentemente aparece na forma daquilo que detestamos. No caso de Neo, um engravatado do governo.

 

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Quanto mais a Sombra tornar-se consciente, menos ela pode dominar. Entretanto, a Sombra é uma parte integral de nossa natureza, e nunca pode ser simplesmente eliminada. Uma pessoa sem Sombra não é uma pessoa completa, mas uma “caricatura bidimensional” que rejeita a ambivalência presentes em todos nós. Além disso, a Sombra não é apenas uma força negativa na Psique. Ela é um depósito de considerável energia instintiva, espontaneidade e vitalidade, e é a fonte principal de nossa criatividade. Lidar com a Sombra é um processo que dura a vida toda, consiste em olhar para dentro e refletir honestamente sobre aquilo que vemos lá. Mas cuidado para não se tornar a sombra (identificação possessiva), pois ela também é um arquétipo “bidimensional”.

 

Smith não é o único caso de sombra no filme. Somos apresentados a uma pessoa cuja trajetória de vida lembra a de Neo, só que muito mais arrogante e manipulador: Merovíngio. Ele, que já foi um Iluminado, um liberto da Matrix, se rendeu aos prazeres da matéria, gerenciando um “inferninho” (qualquer semelhança com o mito do Anjo Caído não é coincidência). Ele aparentemente controla a Matrix, mas também é controlado por ela. As próprias máquinas são outra forma de sombra: a projeção.

 

Projeção:

 

A Sombra é mais perigosa quando não é reconhecida pelo seu portador. Neste caso, o indivíduo tende a projetar suas tendências indesejáveis em outros. Abaixo, um ótimo exemplo:

 

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“Durante mais de 5 anos este homem percorreu a Europa como um louco, em busca de qualquer coisa a que pudesse deitar fogo. Infelizmente sempre haverá mercenários prontos a abrir as portas da sua pátria a este incendiário internacional.”

 

A frase acima não é sobre Hitler, e sim de Hitler falando mal do primeiro-ministro inglês Winston Churchill!

 

Desconfie se sua namorada tiver a paranoia de que você a está traindo, sem você ter dado motivo, ou daquele seu amigo que vive dizendo que todo mundo é gay. A Sombra é o oposto do ego e encarna, precisamente, o traço de caráter que mais detestamos nos outros. E aí lembro do espírito Joana de Ângelis, que diz que “o ódio é o amor distorcido”. Na verdade, ao odiarmos, estamos sufocando algo que temos dentro da gente (por isso a ressonância) que cultivamos (quem cultiva, ama), mas não admitimos. Se não a cultivássemos, a Sombra não existiria desta forma. Daí a necessidade do caminho do meio, do equilíbrio. Se o ego for bem trabalhado nas 4 funções (pensamento, sentimento, sensação e intuição) não vai sobrar grandes opostos para a Sombra encarnar.

 

No filme vemos a simbologia da projeção dos humanos sobre as máquinas. Criticam nas máquinas exatamente seu maior defeito: a exploração e a subjugação pela força. Ao ver o episódio de Animatrix onde é contada a história da humanidade antes da escravização, vemos o quanto os humanos foram (e ainda são) arrogantes e cruéis com as máquinas. Foram os humanos, e não as máquinas, os responsáveis pela destruição da atmosfera do planeta, o que obrigou as máquinas a usarem humanos como fonte de alimentação. No diálogo de Neo com o Conselheiro Hamann, vemos a questão ser retomada, e a constatação de que eles continuam dependentes das máquinas tanto quanto antes, mas admitir isso seria uma fraqueza, pois a ilusão humana é acreditar que está no controle. Até hoje é mais fácil para o ser humano confrontar ao invés de conviver, tirar ao invés de pedir, desperdiçar ao invés de compartilhar.

 

Introversão e extroversão:

 

Jung descobriu que cada indivíduo pode ser caracterizado como sendo primeiramente orientado para seu interior ou para o exterior, sendo que a energia dos introvertidos se dirige em direção a seu mundo interno, enquanto a energia do extrovertido é mais focalizada no mundo externo. Entretanto, ninguém é totalmente introvertido ou extrovertido. Algumas vezes a introversão é mais apropriada, em outras ocasiões a extroversão é mais adequada, mas, as duas atitudes se excluem mutuamente, de forma que não se pode manter ambas ao mesmo tempo. Jung também enfatiza que nenhuma das duas é melhor que a outra, citando que o mundo precisa dos dois tipos de pessoas. Darwin, por exemplo, era predominantemente extrovertido, enquanto Kant era introvertido por excelência. O ideal para o ser humano é ser flexível, capaz de adotar qualquer dessas atitudes quando for apropriado, operar em equilíbrio entre essas duas qualidades.

 

O pêndulo da mente se alterna entre perceber e não-perceber, e não entre certo e errado. — Carl Jung

 

O estruturalismo (Lévi-Strauss, Barthes, Lacan, etc) e a teoria dos sistemas (Luhmann) decretaram a “morte do sujeito”, o indivíduo do pensamento iluminista, em favor da sociedade ex-machina, vista de cima, de forma pragmática e objetiva. Esse é o papel do Arquiteto, o programa que construiu a Matrix. Para ele pessoas são números, equações que ele deve manter equilibradas. Entretanto, o ser humano é imprevisível, e alguns poucos desequilibraram o sistema várias vezes, causando um colapso.

 

O pós-estruturalismo defende que é a interação entre os elementos de um sistema que causa a entropia que destrói a estrutura. Cuidar desses elementos individuais é o papel de Oráculo, um programa de salvaguarda do “sistema Matrix”. Ela tenta equilibrar os interesses do Arquiteto com o dos humanos “revoltados”, e naturalmente evoluiu para ser a intermediadora entre os dois lados.

 

Anima e Animus:

 

Anima (alma, em latim) é a representação feminina no inconsciente do homem (que idéia ele faz, no seu íntimo, da mulher). O caráter da Anima é, em geral, determinado pela sua mãe. Se o homem sente que sua mãe teve sobre ele uma influencia negativa, sua Anima se manifestará de forma negativa, ou seja, ele poderá ser inseguro, apático, com medo de doenças, de impotência ou de acidentes (se ele conseguir combater essas influências negativas da Anima, sua masculinidade tende a fortalecer-se). A vida adquire um aspecto tristonho e opressivo, que pode levar o homem até mesmo ao suicídio. Se, por outro lado, a experiência com a mãe tiver sido positiva, a Anima poderá deixá-lo efeminado ou explorado por mulheres, incapaz de fazer face às dificuldades da vida (menino criado com vó dá nisso!). A manifestação mais freqüente de Anima é a que toma forma como fantasia erótica, que leva o homem a consumir revistas pornográficas, sex-shows, etc. É um aspecto primitivo e grosseiro da Anima, mas que só se torna compulsivo quando o homem não cultiva suficientemente suas relações afetivas – quando sua atitude para com a vida mantém-se infantil.

 

Animus (espírito, em Latim) é o lado masculino no inconsciente da mulher. Assim, uma mulher muito feminina tem uma alma masculina não desenvolvida (trabalhada). Em seu relacionamento com o mundo, se ela é impressionável, calorosa, estimulante e envolvente, seu lado masculino interior será muito diferente: duro, crítico, agressivo, prepotente… O Animus (assim como a Anima) possui 4 estágios de desenvolvimento: o primeiro como personificação da força física (o atleta, a força pelos músculos), no estágio seguinte, como o homem de ação (iniciativa e planejamento). No terceiro, manifesta-se como verbo, como professor, e na quarta e mais elevada manifestação torna-se (assim como a Anima) mediador de uma experiência na qual a vida adquire um novo sentido. Dá à mulher uma firmeza espiritual e um amparo interior, que compensa sua brandura exterior. Relaciona a mente feminina com a evolução espiritual da época, tornando-a assim mais receptiva a novas idéias criadoras do que o homem. É por este motivo que antigamente, em muitos países, cabia à mulher adivinhar o futuro ou a vontade dos Deuses. A audácia criadora do seu Animus positivo expressa, por vezes, pensamentos e idéias que estimulam a humanidade a novos empreendimentos.

 

Anima(us) é também uma Sombra, e como tal pode ser projetada. Isso é feito quando a pessoa apaixona-se logo de cara, quando diz “É esse(a)!” e parece que se conhece essa pessoa há tempos. Pessoas fascinantemente misteriosas são as mais fáceis do homem/mulher projetar sua Anima(us), pois em torno delas pode-se tecer as mais variadas fantasias. Para sair desta ilusão é preciso reconhecer o Anima(us) como um poder e qualidade interior. O objetivo de todo esse jogo do inconsciente é forçar o ser humano a desenvolver e amadurecer o próprio ser, integrando melhor a sua personalidade inconsciente e trazendo-a à realidade da vida (mesmo que seja através de subterfúgios, como projeções).

 

Cada homem sempre carregou dentro de si a imagem da mulher; não a imagem desta ou daquela mulher, mas uma imagem feminina definitiva. — Carl Jung

 

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Mas a Anima(us) não é só negativa. Ao contrário, uma Anima bem trabalhada pode levar o homem ao seu pleno potencial. A função mais importante da Anima é ajudar a sintonizar a mente masculina com seus valores interiores positivos, assumindo então uma posição de mediadora entre o mundo interior e o Self. E é através deste desejo íntimo de trabalhar aspectos que o homem não possui, que um homem tímido tende a procurar alguém que seja extrovertida. Como no velho ditado “os opostos se atraem”, ou a “cara metade”, etc. As pessoas buscam o oposto nas outras pessoas quando na verdade é um subterfúgio do inconsciente para encontrar o oposto dentro delas mesmas.

 

“Atrás de um grande homem sempre existe uma grande mulher”. Verdade, embora o contrário também seja verdadeiro. Vemos este arquétipo de Anima como a salvação, a luz no fim do túnel, no livro A Divina Comédia, onde Beatriz guia Dante através de um (significativo e simbólico) caminho tortuoso e íngreme, que o leva à redenção (Luz). Trinity simboliza a Anima de Neo em Matrix, e através dela (direta e indiretamente) ele pôde manifestar suas potencialidades. Na Índia vemos essa dualidade/complementação no casal de Deuses Shiva/Kali e Vishnu/Parvati.

 

No terceiro filme Neo fica cego (simbolicamente perdido, cercado pela escuridão) e é guiado (literalmente pela mão) por Trinity, que pilota a nave até seu objetivo (a cidade das máquinas). Antes, porém leva Neo até a luz do Sol (símbolo pra uma nova iluminação, uma nova compreensão).

 

A Anima(us) vai muito mais fundo na contraparte da personalidade (lado oposto inconsciente) que a Sombra. Se a imagem da Sombra desperta medo e apreensão, a Anima(us), ao contrário, estimula o desejo de união. A Sombra leva a pessoa de encontro a parte indesejada da Psique total, suas qualidades inferiores. Mas não vai além disso, a menos que se deseje ir de encontro com o mal absoluto. A estrutura Anima(us) leva a pessoa a níveis muito mais profundos do Self, pois está ancorada em aspectos do inconsciente coletivo e arquétipos, não sendo apenas reflexos negativos de si mesmo.

 

The Matrix: Revolutions

 

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Até o ponto que podemos compreender, o único propósito da existência humana é acender a luz do sentido na escuridão do mero Ser. — Carl Jung

 

Funções psíquicas:

 

Há quatro funções psicológicas fundamentais para se analisar o ser humano: pensamento (pessoas assim são grandes planejadoras e tendem a se agarrar a seus planos e teorias, ainda que sejam confrontados com contraditória evidência), sentimento (preferem emoções fortes e intensas – ainda que negativas – a experiências apáticas e mornas. Faz seu julgamento com base em seus próprios valores, como por exemplo, se é bom ou mau, se é certo ou errado, agradável ou desagradável), sensação (o enfoque está na experiência direta, e tem sempre prioridade sobre a discussão ou a análise da experiência. Tem a ver com o que a pessoa pode ver, tocar, cheirar).

 

Os sensitivos trabalham melhor com instrumentos, aparelhos, veículos e utensílios do que qualquer um dos outros tipos) e intuição (o homem intuitivo vai além dos fatos, sentimentos e idéias, em busca da essência da realidade. As implicações da experiência – o que poderia acontecer, o que é possível – são mais importantes para os intuitivos do que a experiência real por si mesma. Dão significados às suas percepções com tamanha rapidez que, via de regra, não conseguem separar suas interpretações conscientes dos dados sensoriais brutos obtidos).

 

As duas primeiras são funções racionais (fazem uso da razão, do juízo, da abstração e da generalização) e as duas últimas são irracionais (por serem baseadas na percepção do concreto, do particular e do acidental). O pensamento é ideacional e intelectual. O sentimento mede o valor das coisas para o sujeito. A sensação é a percepção da realidade, traz fatos concretos ou representações do mundo. A intuição é a percepção por meio de processos inconscientes e conteúdos subliminares.

 

Embora todo mundo tenha as quatro funções, elas não são desenvolvidas em sua totalidade. Geralmente uma delas é predominante na consciência, e é chamada de função superior, e uma entre as três restantes pode agir como auxiliar da função superior. Em caso de “pane” da principal, entra automaticamente em cena a outra. A menos usada das quatro é chamada de função inferior, e fica reprimida, relegada ao mais profundo do inconsciente.

 

Se todas as funções pudessem ser igualmente fortes no consciente e harmonizadas (como se dispostas na borda de um círculo) o centro desse círculo seria o Self realizado plenamente. É o núcleo, mas também é toda a esfera. O problema é que nem sempre acessamos este núcleo. Mas não fiquem pensando que é um ponto localizável na alma humana, algo que possa ser acessado tipo “ah, eu estou falando com o Self” porque ele é um conjunto que define o ser humano como um todo, e o ser humano também é sua coletividade e seu meio (inconsciente coletivo). A abordagem do Self vem de encontro à filosofia Zen, quando diz:

 

Se o Zen Budismo considerasse importante expressar-se aqui apoiado no uso da terminologia, poderia fazê-lo do seguinte modo: o centro do Ser situa-se além da multiplicidade, da identidade/diversidade e, no entanto, não se situa além delas. E, como situar-se além e não-além disto é igualmente uma contradição, acrescentar-se-ia como explicação: o centro do Ser não é um nem outro, nem ambos, e absolutamente não pode ser descrito por meio do pensamento. Quem desejar saber o que ele é, deve percorrer o Caminho Zen. — Eugen Herrigel

 

Há alguns estágios básicos para a Individuação, que são: reconhecer as máscaras (persona), confrontar a Sombra, a Anima / Animus, e finalmente, o desenvolvimento do Self. Mas não pensem que acaba por aí, ou que isso seja fácil. É necessário ter em mente que, embora seja possível descrever a Individuação em termos de estágios, o processo é bem mais complexo que isso. Todos os passos mencionados sobrepõem-se, e as pessoas voltam continuamente a problemas e temas antigos (espera-se que de uma perspectiva diferente). A Individuação poderia ser apresentada como uma espiral na qual os indivíduos permanecem se confrontando com as mesmas questões básicas, de forma cada vez mais refinada. Este conceito está muito relacionado com a concepção Zen-Budista da Iluminação, na qual um indivíduo nunca termina um koan, ou problema espiritual, e a procura por si mesmo é vista como idêntica à finalidade. É como falei antes: a vida é um eterno saindo da Matrix.

 

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Neo se defronta com as questão do que é “real” várias vezes durante os filmes.

 

Primeiro, ele teve de se libertar da ilusão da Matrix, depois da ilusão do ego e, por fim, da ilusão da individualidade. Somente quando percebeu que não tinha sentido combater pela eternidade a Sombra (Smith) foi que Neo se deixou levar pelo sentido dos acontecimentos, que no filme é chamado de propósito.

 

Todos ali têm uma missão, uma programação, mesmo fora da Matrix. Era o indicativo de que, para além do Arquiteto e da Matrix, existiria uma outra Matrix mais sutil, e percebemos isso claramente quando Neo, ao Individuar-se (na fusão com Smith) é simbolicamente retratado como Jesus na cruz – pois cumpriu o trajeto dos Mestres Crísticos, que colocaram a missão acima da individualidade – para depois sumir em uma Luz que representa uma Flor de Lótus (símbolo da transcendência da alma).

 

Créditos:

Acid Zero, Thalita Silva e João Batista. Baseado na obra de Carl Jung.

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Ótima análise...

 

Assisti a trilogia desde o lançamento do primeiro filme no cinema, acredito que já vi e revi umas 1.000x e nunca conseguia compreender 100%.

 

O texto matou a charada.

~~

 

 

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Ótima análise...

 

Assisti a trilogia desde o lançamento do primeiro filme no cinema, acredito que já vi e revi umas 1.000x e nunca conseguia compreender 100%.

 

O texto matou a charada.

Eu também HAHAHAHA

Esperava maior repercussão do tópico visto que se trata de um filme conhecido por todos, acho que o texto longo afastou muita gente.

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