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‘Somos criaturas que não deveriam existir': A Teoria da Anti Natalidade


Oragah
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Costumava ser raro meus alunos perguntarem se eu houvera assistido a um determinado programa de televisão. Isso mudou quando “True Detective” estreou e os alunos começaram a perguntar se eu vira a série. O que despertou essas perguntas, soube depois, foram as reflexões anti natalidade do detetive Rustin Cohle, como também o reconhecimento em uma entrevista pelo autor Nic Pizzolatto que meu livro anti natalidade “Better Never to Have Been”[1] estava entre os livros que inspiraram a visão de mundo de Rust Cohle[2].

 

Certamente foi uma surpresa para mim, como parece ter sido para outros que “tamanho sucesso apresente tão claramente uma filosofia sombria que sugere … [como a anti natalidade faz] … que deveríamos parar de reproduzir” [3]. Um público muito grande foi introduzido a esta visão cruel do mundo.

 

Há um perigo, contudo, que a anti natalidade seja intimamente associada ao personagem Rust Cohle por aqueles que somente tiveram acesso a este ponto de vista pela série True Detective. O perigo é que a anti natalidade pode ser confundida ou relacionada com outras características sombrias do personagem Rust Cohle. Estas incluem niilismo, violência e alcoolismo.

 

Anti natalidade é a visão que deveríamos desistir de procriar – de que é errado termos crianças. Existem várias vias para esta conclusão. Algumas são o que podemos chamar de vias “filantrópicas”. Elas surgem da preocupação aos seres humanos que serão trazidos à existência se procriarmos. De acordo com esses argumentos, a vida é cheia de sofrimentos e nós não deveríamos criar mais. Muitos a favor da natalidade contrariam esta sugestão e argumentam que, ao menos, o que há de bom na vida supera o que há de mau. Eles deveriam parar e considerar o seguinte.

 

Primeiro: existe uma ampla evidência de pesquisas em psicologia que a maior parte das pessoas são tendenciosas para um viés otimista e estão sujeitas à outras características psicológicas que as levam a subestimar a quantidade de maldade na vida [4]. Nós temos então uma excelente razão para descrer das avaliações otimistas de vida das pessoas.

 

Segundo: quando olhamos no detalhe percebemos o quanto de sofrimento existe. Considere, por exemplo, os milhões vivendo em pobreza ou sujeitos à violência ou à ameaça de tais coisas. Distúrbios psicológicos são comuns. Taxas de depressão são elevadas. Todos sofrem de frustrações e perdas. A vida é pontuada por períodos de doença/saúde. Algumas passam sem efeitos duradouros mas outras deixam sequelas. Nas partes mais pobres do mundo, doenças infecciosas somam a maior parte das doenças. Contudo, aqueles no mundo desenvolvido não estão isentos de doenças assustadoras. Eles sofrem de derrames, várias doenças degenerativas e câncer.

 

Terceiro: mesmo se alguém pensar que o melhor da vida é bom (o suficiente), procriar é infligir no ser que você criou riscos inaceitáveis de sofrimentos grotescos, mesmo que eles ocorram no fim da vida. Por exemplo, 40% dos homens e 37% das mulheres no Reino Unido desenvolvem câncer em algum momento. São possibilidades terríveis. Infligi-las a outra pessoa trazendo-a à existência é negligência. Rust Cohle expõe esta ideia quando ele diz que pensa “sobre a soberba de arrancar uma alma da não existência nisto… Forçar uma vida neste moedor de lixo…” [5] (O uso de “alma” deve obviamente ser entendido metaforicamente).

 

Outra via para anti natalidade é o que eu chamo de argumento “misantropo”. De acordo com este argumento seres humanos são falhos e uma espécie destrutiva que é responsável pelo sofrimento e morte de bilhões de outros humanos e animais [6]. Se este nível de destruição fosse causado por outra espécie nós rapidamente recomendaríamos que novos membros daquela espécie não deveriam ser trazidos à existência.

 

Embora Rustin Cohle não apoie explicitamente misantropia como argumento de anti natalidade, ele é certamente misantropo. Por exemplo, ele observa astutamente que “pessoas incapazes de sentir culpa frequentemente se divertem.” [7] Suas inferências sobre misantropia não são necessariamente aquelas que um anti natalista apoiaria. Por exemplo, para justificar sua própria (“correta”) violência, ele diz que “o mundo precisa de gente ruim. Mantemos os outros ruins à distância.” [8] Anti natalistas não são comprometidos com nenhuma visão em particular de quando violência é justificável ou não. Anti natalidade não é uma completa teoria moral, mas somente uma visão sobre a moralidade da procriação. Contudo, é improvável que violência justiceira, na qual Rustin Cohle e seu parceiro Martin Hart se envolvem, poderia ser justificada se outras considerações morais relevantes forem analisadas.

 

Tampouco a anti natalidade implica que deveríamos lançar mão do alcoolismo. Consumido em excesso, o álcool não melhora a vida, mas a piora – tanto para aqueles que o ingerem quanto para aqueles que entram em contato com alcoólatras.

 

Existe uma tendência comum de relacionar anti natalistas como niilistas. Rust Cohle se declara um niilista. Contudo, apesar de assumir, como o próprio Nic Pizzolatto observou, Rust não é niilista [9]. Niilistas (em termos de valores) pensam que nada importa, mas Rust e anti natalistas em geral pensam que há muito que importa. Importa, por exemplo, se as pessoas sofrem. Anti natalidade é baseada em grande preocupação com valores ao invés da ausência deles.

 

Não somente seres humanos mas também animais (ou pelo menos animais conscientes) são prejudicados ao serem trazidos à existência. A maldição básica da consciência se aplica a todos os serem sencientes. Contudo, muitos anti natalistas focam em seres humanos. As razões variam. Entre elas consta que pessoas (normais, saudáveis, adultas) enfrentam uma maldição adicional de auto consciência. Por razões correlatas, a maior parte dos seres humanos são capazes, ao menos em princípio, de refletir se deveriam produzir uma prole.

 

Não obstante, deve-se dizer que muitos seres humanos se importam pouquíssimo ou nem se importam com suas ações de procriação. Isto pode ser causado porque seres humanos não são tão diferentes de outros animais não humanos como eles gostam de pensar. Como outros animais, somos produtos da evolução, todos com a programação biológica esperada para tais seres. Rust reconhece este obstáculo quando ele diz:

 

“Eu acho que o mais honroso para nossa espécie é negar nossa programação, parar de reproduzir. Caminhar de mãos dadas para a extinção uma última noite. Irmãos e irmãs que escolhem uma escolha crua.” [10]

 

É importante observar que anti natalidade, enquanto facilitador da extinção humana, é uma visão sobre um meio particular de extinção – chamada de não-procriação. Anti natalistas não tem comprometimento com suicídio ou “especiecídio”, conforme alguns de seus críticos incessantemente sugerem. Nada é perdido se não vier a existir. Contrariamente, cessar a existência possui um custo. Suicídio em particular é muito difícil, conforme Rust responde à pergunta de Marty: “Por que sair da cama todos os dias” com a afirmação de que “Não tenho o necessário para cometer suicídio” [11]. Assassinato e especiecídio carregam problemas morais adicionais, incluindo mas não se limitando a violar o direito daqueles que preferem não morrer.

 

Como um anti natalista, Rust Cohle demorou a ter esta opinião. Ele se tornou um anti natalista muito tarde para poupar sua filha de vir à existência. De fato, ele tomou a morte dela para si de forma a perceber o quão arrogante é infligir os riscos da existência a um filho. Ele está de fato errado quando diz que “para minha filha, ela me poupou do pecado de ser um pai.” [12] O pecado de ser um pai é um pecado de gerar uma criança, não o pecado de educar uma.

 

Alerta de Spoiler: Lamentavelmente, é correto inferir que Rust se afasta de sua anti natalidade ao final da primeira temporada. Certamente há uma evidência de um aumento de otimismo. Ele e Marty estão contemplando o céu noturno e Rust fala sobre “luz contra escuridão”. Marty, que não compartilha a visão crua de Rust, observa que “a escuridão tem muito mais espaço”. Rust inicialmente concorda, mas então se retrata. Na fala final da temporada ele diz: “Bem, antes havia somente escuridão. Se me perguntar, a luz está vencendo”.

 

David Benatar é Professor de Filosofia na Universidade da Cidade do Cabo, África do Sul. Ele é o autor de Better Never to Have Been: The Harm of Coming into Existence (Oxford, 2006) e The Second Sexism: Discrimination Against Men and Boys (Wiley-Blackwell, 2012).

 

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fonte:

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Qual sua opinião sobre?

 

obs: se for pra entrar aqui e comentar que não quis ler pelo fato do texto ser grande, nem comente nada. Não estou interessado em saber que você é um preguiçoso que quer participar de debates sem se dar ao trabalho de ler.

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Talvez minha opinião não se encaixe no assunto ou mas tá ai.

 

O homem não sei acostumou com a ideia de morte. Mesmo que todo dia morram milhares de pessoas no mundo, ainda sentimos a perda de alguém.

Então essa teoria de anti natalidade não será facilmente implantada.

Se não me engano, os japoneses não querem mais ter filhos. Ninguém acha nada bom nessa atitude.

Nós vemos um simples fato de ter filho ou não causar tanta polêmica.

 

Nós matamos, degradamos e destruímos lentamente nosso planeta.

Mas se nos compararmos ao universo, não somos nada.

Acho que a gente existir ou não, simplesmente não fazemos diferença alguma no universo.

 

Assiste esse vídeo, não tem nada a ver com anti natalidade, mas pense o seguinte: Se nós chegarmos à extinção e vier uma forma de vida inteligente não terrestre. Eles ganhariam um planeta seminovo.

 

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Acho que um personagem tão complexo só podia carregar um pensamento tão complexo quanto.

 

Eu acho que a raça humana passou por muito. Dizimada várias vezes antes de sair da Europa, os vários povos escravizados, as duas grandes guerras e o constante crescimento populacional criam a ideia de que nós somos insignificantes e que só estamos aqui para sofrer. A verdade é que dificilmente alguém encontra a vida perfeita e da mesma forma ninguém está no fundo do poço. Apesar disso, todos estamos em um barco que balança consantemente e entre esses balanços acabou com milhões de vidas. É, de uma maneira confusa e que eu não consigo explicar, reconfortante pensar que somos desnecessários. E se tanto sangue já foi derramado por que permitir que mais sangue seja ao continuar procriando?

 

É uma maneira muito triste de se ver a vida, porém muito compreensiva. Ótimo texto, obrigado por trazê-lo.

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Texto bacana,bro.

Apesar de realmente ter ficado comovido com a ideia que o texto passa, acredito que a vida tem um propósito maior - e blá blá blá. E trazer filhos ao mundo se torna uma atitude positiva.

iboOLud2iuUw0m.png.

Skype: juan_laden

Habbo: Juanhenrique007

Battlefield play4free : Cobramarrom

Battlefield 3 : PirambelOS Live: PirambelOS Steam: PirambelOS

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Gostei, fazia muito tempo que eu não lia nada assim(correspondente ao meu nível intelectual).

 

Não vejo o que comentar, apoio a teoria da anti natalidade e a carrego como filosofia de vida, mas não podemos ignorar nossa memória genética, a necessidade de procriar para garantir a sobrevivência da espécie(por algum motivo), isso é algo nato dos seres humanos, aliás, de todos os seres vivos, portanto, creio que devido a minha idade adjacente a falta de maturidade, ainda é um conflito para eu abraçar completamente a ideia de nunca procriar, mas sei que é algo emotivo, sei que com o tempo, com mais maturidade e com vontade de abraçar a razão invés da emoção, creio que eventualmente abraçarei completamente a teoria da anti natalidade.

E um outro ponto também é mencionar que este texto seja útil somente para aqueles que tenham interesse em se entreter com assuntos filosóficos, pois é impossível argumentar ou tentar convencer a espécie humana a não procriar, é impossível sequer tentar debater esse assunto com uma tia, barriguda de 40 anos que mora na favela com 7 filho negro, funkeiro e traficante, ou fazer jovens americanas bêbadas e drogas e transar com camisinha, mas com certeza valeu a pena ler. ^^ .

 


@EDIT

Ah, agora vou procurar essa série, me instigou, hehe.

 

 

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vcs são mt profundos oloko, na primeira vez que li o texto pensei que fosse loucura, mas após ler a opinião de vcs acho que entendi melhor os motivos, e sim eles são validos mesmo que seja impossível todos adotarem essa ideia hahahahah

Baixando true detective aqui tb~

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Texto interessante, achei loucura demais isso! Creio eu que, quando nascemos temos um objetivo, seja de quaisquer maneira que surgimos, ou

qualquer condições que teremos em nossa vida. Porem a teoria tem seus lados positivos. Ótimo tópico.

D a r k s w a m p/ D a r k s w a m p / D a r k s w a m p

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