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Anarquia é utopia? Não em Christiania!


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Christiania: a prova de que anarquia não é utopia

 

Christiania: A Lenda da Liberdade No coração gelado do capitalismo europeu, na fria Copenhagen, Dinamarca, uma comunidade de 10 mil pessoas vive num outro compasso. Cristiania não tem prefeito, não tem eleição e funciona sem governo, sem imposição de leis que controlem a organização social. A lenda da cidade-livre da Dinamarca é real: inspirada no Anarquismo, Christiania resiste há mais de 20 anos, inventando um jeito novo de conviver com os problemas da vida comunitária. Limpeza das ruas, rede de esgoto, manutenção dos serviços básicos, tudo é decidido e feito a partir de reuniões entre os moradores da cidade.

 

Eles se definem como uma comunidade ecologicamente orientada, com uma economia discreta e muita autogestão, sem hierarquia estabelecida e o máximo de liberdade e poder para o indivíduo. Uma verdadeira democracia popular direta, onde o bom senso e o diálogo substituem as leis. No Brasil, poucos conhecem a história da cidade-livre. O TESÃO vai contar, com exclusividade, a lenda da liberdade.

 

Christiania começou a escrever sua história em 1971. Foi a partir das idéias de um jornal alternativo, o Head Magazine, que um grupo de pessoas, de idades e classes sociais variadas, decidiu ocupar os barracos de uma área militar desativada na periferia de Copenhagen. Era o início de uma luta incansável contra o Estado. A polícia tentou várias vezes expulsar os invasores da área, mas sem sucesso. Christiania virou um problema político, sendo discutida no parlamento dinamarquês. A primeira vitória veio com o reconhecimento da cidade-livre como um "experimento social", em troca do pagamento das contas de luz e água, até então a cargo dos militares, proprietários da área. O Parlamento decidiu que o experimento Christiania continuaria até a conclusão de um concurso público destinado a encontrar usos para a área ocupada.

 

Em 73 houve troca de governo na Dinamarca e a situação de radicalizou: o plano agora era expulsar todos e fechar o local. O governo decretou que a área seria esvaziada até o dia 1º de abril de 1976. Na última hora, o Parlamento decidiu adiar o fechamento de Christiania. A população da cidade-livre tinha se mobilizado para o confronto com o Estado, mas a guerra não aconteceu. O dia 1º de abril tornou-se o dia de uma grande manifestação da Dinamarca Alternativa. Ao longo dos anos, a cidade-livre aprimorou sua autogestão: casa comunitária de banhos, creche e jardim de infância, coleta e reciclagem de lixo; equipes de ferreiros para fazer aquecedores a lenha de barris velhos, lojas e fábricas comunitárias de bicicletas.

 

A década de 80 foi marcada pelas drogas. Em 82, o governo começou uma campanha difamatória contra Christiania: a cidade-livre era considerada o centro das drogas do Norte da Europa e a raiz de muitos males. A comunidade teve então que organizar programas de recuperação de drogados e expulsar comerciantes de drogas pesadas, como a heroína. O mercado de haxixe continua funcionando normalmente. O governo dinamarquês nunca deixou Christiania em paz, Vários planos foram elaborados visando a "normalização e legalização" da área.

 

Em janeiro de 92, finalmente um acordo foi assinado. Christiania já tinha mais de vinte anos de independência e provara ao mundo que é possível viver em liberdade. Mesmo com o acordo, o governo ainda tenta controlar a cidade-livre. A resposta veio no ano passado, com o lançamento do Plano Verde, onde os moradores de Christiania expressam sua visão de futuro e que rumos tomar. A lenda de Christiania continua sendo escrita.

 

 

Christiania: uma cidade sem governo

 

Christiania II: Uma Cidade sem Governo Christiania tem provado ao mundo que é possível viver numa sociedade sem autoridade constituída, sem delegação de poder através de mandatos e eleições. A cidade-livre da Dinamarca criou um experimento social definitivo contra a idéia dominante de que a humanidade se auto-destruirá se não existir um controle sobre a liberdade individual.

 

Os habitantes de Christiania decidiram correr o risco de andar na contra-mão da história. Para eles, o governo, seja lá qual for, e seus mecanismos de administração pública são sinônimos de burocracia, abuso de poder e corrupção.

 

Vivendo sem a necessidade de leis que controlem a organização social, cada morador da cidade livre tem que fazer sua parte enquanto cidadão e confiar que todos farão o mesmo. É uma nova ética de convivência, baseada na honestidade e na solidariedade.

 

Em 23 anos de existência, a cidade-livre sempre esteve associada a rebelião contra a ordem estabelecida e experimentando novos meios de democracia e formas de autogestão da administração pública. Christiania se organiza em vários conselhos, onde todos os moradores têm direito a opinar e discutir os problemas comunitários. As decisões não são feitas por votação, mas sim através do consenso. Isso significa que não é a maioria que decide e sim que todos tem que estar de acordo com as decisões tomadas nas reuniões. Às vezes, contam-se os votos somente para se ter uma idéia mais clara das opiniões, mas essas votações não tem nenhum significado deliberativo, não contam como uma solução para os problemas da comunidade. Christiania é dividida em 12 áreas, cada uma administrada pelos seus moradores, para facilitar o funcionamento dos serviços básicos. As decisões tomadas sempre por consenso podem parecer difíceis para nós, brasileiros acostumados ao poder da maioria sobre a minoria (pelo menos, é assim que se justificam os defensores das eleições).

 

Mas para os habitantes da cidade-livre, o consenso só é impossível quando existe autoritarismo, quando alguém tenta impor uma opinião sem dar abertura para que outras idéias apareçam e até prevaleçam como melhor solução. A experiência tem ensinado aos moradores de Christiania que cada reunião deve discutir só um assunto, principalmente na Reunião Comum, que decide sobre os problemas mais importantes da comunidade. E, contrariando o pessimismo dos que não conseguem imaginar uma vida sem governo institucional, a utopia está dando certo: a vida comunitária de Christiania preserva a liberdade individual e constrói uma eficiente dinâmica de relacionamento social, livre do autoritarismo e da submissão. A cidade-livre vive o anarquismo aqui e agora.

 

 

Ação Direta

 

Os moradores da Christiania fazem questão de ser uma pedra no sapato do capitalismo. Eles não se contentam apenas em incomodar os valores tradicionais da sociedade européia com a vida alternativa que levam. Christiania também desenvolve várias atividades com o objetivo de contestar o sistema capitalista e divulgar as idéias anarquistas.

 

Durante os primeiros anos, a cidade-livre se tornou conhecida por suas ações no teatro e na política. E quem conseguiu maior sucesso nessa área foi o grupo Solvognen. Uma de suas ações diretas mais famosas foi em 1973, quando a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma espécie de braço armado dos Estados Unidos na Europa, realizou um encontro de cúpula em Copenhagen. Inspirados no programa de rádio "Guerra dos Mundos" de Orson Welles, que simulou uma invasão de marcianos colocando em pânico a população norte-americana na década de 40, centenas de pessoas, lideradas pelo grupo de teatro de Christiania, fizeram parecer que um exército da OTAN tinha ocupado a Rádio Dinamarca e outros pontos estratégicos da cidade. A impressão que se tinha era que a Dinamarca estava ocupada por forças estrangeiras. Durante várias horas, o país inteiro ficou em dúvida se a invasão era teatro ou realidade. A ação foi uma dura crítica a intervenção dos Estados Unidos na vida dos países europeus.

 

O Solvognen também usou a critividade para contestar o comércio da maior festa do cristianismo. Em 1974, o grupo organizou o primeiro Natal dos Pobres da Dinamarca. Milhares de presentes foram distribuídos por um batalhão de Papai Noéis. Detalhe: os presentes eram artigos roubados das lojas de Copenhagen. Resultado: foram todos presos, mas o escândalo ganhou as manchetes dos principais jornais da europa, com fotos de dezenas de Papais Noéis sendo carregados pela polícia. Até hoje o Natal dos Pobres continua sendo organizado como uma tradição e todo ano aproximadamente 2 mil pessoas recebem uma grande ceia em Christiania. Vote Nulo.

 

Fonte:

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Caminhar do centro de Copenhague, na Dinamarca, na direção de Christiania, é ter a sensação de estar seguindo para o lugar errado. A incerteza vem na forma de um vento gélido que agride impiedosamente quem percorre a longa ponte Knippelsbro sobre as águas do mar Báltico, e na escassez de pedestres e estabelecimentos comerciais, que desaparecem a olhos vistos. A imagem da torre dourada em espiral da igreja Vor Frelsers Kirke sinaliza a aproximação de um mundo à parte. Diferente da Berlim até 1989, a Rua Prinsessegade - fronteira entre a capital da Dinamarca e a mais célebre comunidade hippie do mundo - não traz nenhuma placa advertindo sobre a chegada de um território hostil. Os limites de Christiania deveriam começar onde Copenhague termina, mas hoje já é quase impossível distinguir o início de seu fim.

 

Christiania - ou "Freetown" (cidade livre), como é chamada por seus moradores - comemorou 35 anos de sua existência em setembro de 2006. Fundada no auge do movimento flower power em uma antiga área militar abandonada no bairro de Christianshavn, tinha como objetivo ser "uma sociedade alternativa livre, baseada na convivência com o próximo e com a natureza". Grupos de dezenas de dinamarqueses invadiram o terreno de 340 mil m2 pela primeira vez em 1969. O derradeiro movimento ocorreu em setembro de 1971, após o jornal alternativo Hovedbladet publicar em sua primeira página um artigo conclamando leitores a "ocupar em definitivo a área proibida" e a "construir uma nova sociedade do zero". O espaço extenso demais e a enorme quantidade de invasores impediram que polícia e governo conseguissem intervir em tempo. Nascia o mais famoso caso de "experimento social" de que se tem notícia.

 

Autodenominada "o pulmão verde de Copenhague", graças à vasta área de vegetação virgem que abraça seus domínios, Christiania é o lar de aproximadamente 900 pessoas que vivem sob um grupo de leis distintas do restante da Dinamarca. O modelo de autogestão praticado por seus moradores é a "democracia do consenso", no qual as decisões essenciais surgem da concordância de todos os participantes de uma assembléia. Não há hierarquias: os christianistas participam ativamente da implantação do que é decidido coletivamente e resolvem em comunhão o destino do orçamento anual de quase 18 milhões de coroas dinamarquesas (aproximadamente R$ 6,7 milhões), obtido com a contribuição mensal dos moradores e os rendimentos dos negócios locais. Esta "caixinha" comunitária dá conta das despesas com eletricidade, água, esgoto, taxas municipais e ainda um conjunto de serviços que serve somente aos moradores de Christiania, como correio, creches, oficinas, asilos e um moderno sistema de coleta e reciclagem de lixo. Na prática, um terço dos moradores adultos tem emprego e ganha seu próprio dinheiro, enquanto um terço é sustentado pelo poder público e o restante, aqui incluindo os traficantes, não possui nenhum rendimento oficial. Ninguém é dono da habitação em que vive. Carros são proibidos de circular, apesar de muitos moradores possuírem automóveis (ironicamente, o índice de carros a cada mil habitantes é mais alto em Christiania - 190 por grupo de mil habitantes - do que na própria Copenhague - 182 por mil). Em 1997, a cidade criou sua moeda própria, o Løn, usada somente em transações locais. Entre os atuais moradores, há artistas, músicos, escritores, cientistas, filósofos, jornalistas e comerciantes. "Devido ao modo como a imprensa diária nos trata, há muita gente que não entende o que Christiania significa", reclama o alemão Karsten Schubmann, morador do local desde 1978 e um dos poucos a ter seu próprio site,

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. "Infelizmente, muitos moradores atuais não têm a ver com os ideiais e as perspectivas de quando a comunidade foi criada. Pessoas são estranhas: com o tempo, só querem saber de seu próprio conforto. Se puséssemos mais ênfase nas condições para se viver aqui, teríamos mais gente se identicando com nossos princípios socialistas", diz.

 

O tempo em christiania parece não andar, apesar da quase inexistência dos tradicionais estereótipos hippies. A "cidade livre" é uma desequilibrada mistura de vida campestre e metropolitana. Localizada em meio a prédios de apartamentos e uma área comercial silenciosa e escassa, ela poderia ser facilmente ignorada por quem não a procura.

 

A entrada principal mantém um portal onde se lê o nome do lugar esculpido em letras de forma douradas entre dois totens trabalhados em madeira. Nos demais acessos, nem uma indicação sequer. Asfalto e calçadas deixam a desejar. O chão de terra, entremeado de poças de água, dependendo da época do ano, praticamente demarca o território livre. Indica até onde vão os cidadãos dinamarqueses e a partir de onde se sentem em casa os cidadãos do mundo.

 

O que parece descaso não pode ser consertado, porque faz parte da paisagem toda particular de um verdadeiro parque temático que recebe mais de um milhão de visitantes por ano. As opções para o turista têm se diversificado e Christiania tem sido mais do que simplesmente um cenário bucólico de uma "Hippielândia" ou mesmo uma "Hemplândia". Barracas e improviso são coisas do passado. Pequenas casas de argamassa e cimento espalham-se em meio à área verde, divididas por muros coloridos dispostos de maneira pouco lógica. A inexistência de placas indicativas torna o ato de se perder simples, mesmo com um mapa em mãos. Sem circulação de carros nem iluminação pública, as ruas permanecem na mais completa escuridão durante a noite, tendo apenas as luzes dos estabelecimentos comerciais como referências.

 

Da rua principal, sugestivamente denominada Pusher Street - ou Rua dos Traficantes -, enxerga-se a estátua do Cristo Redentor, o mar e, se bobear, a Garota de Ipanema, tudo pintado em um mural. É próximo a esse Rio de Janeiro escandinavo que fica o ponto de venda de maconha e haxixe, as drogas "oficiais" de Christiania. De lá também se avistam bares e barracas de artesanato. As camisetas têm dizeres libertários - Che Guevara, óbvio, marca presença. Acessórios para o consumo de maconha são vendidos com discrição. O comércio de drogas é ainda mais recatado, longe da vista alheia. Um galpão além oferece itens para quem quiser levar um pedaço de Christiania para casa: livretos que explicam a comunidade desde os primórdios, camisetas com a inscrição "Save Christiania" e adesivos com a bandeira não-oficial - três círculos amarelos sobre fundo vermelho. As mercadorias também são vendidas no portal online christiania.org, atualizado pelos próprios christianistas.

 

A melhor opção de comida barata para o viajante sem dinheiro são as pizzas vendidas em um trailer estacionado ao fundo do camelódromo. O italiano de gestos abruptos e voz alta vende pedaços quadrados de pizzas bem recheadas a 20 coroas dinamarquesas (R$ 7,50), regados a muitos gestos e pouco azeite. Ele vende a iguaria com perguntas, um pouco de desconfiança e indica à reportagem um brasileiro que também mora por ali. Aparentando 45 anos, boné escondendo a calvície, o gaúcho Abel trabalha como uma espécie de zelador de Christiania. É o responsável por montar e desmontar as barracas, além de ajudar os ambulantes a tomar conta das mercadorias e quebrar galhos em geral. Enquanto isso, junta dinheiro suficiente para viver melhor em Copenhague do que no interior do Rio Grande do Sul, onde mora a família. Passa o dia na praça, assim como tantos outros imigrantes que fazem do camelódromo de Christiania uma verdadeira festa das nações. Cada dono de tenda tem uma origem diferente. A banca do africano fica a poucos metros da pizzaria do italiano. O argentino fica em um lugar privilegiado bem na entrada da feira, vendendo bijuterias. Havia um uruguaio, que se foi: voltou ao país depois que sua mulher dinamarquesa resolveu trocá-lo por outra. De vergonha, largou a vida simples em Christiania para nunca mais pisar lá. No mosaico das culturas, atritos também afloram. Histórias de estranhamentos entre vendedores existem aos montes. Há aqueles que mal falam com os demais, os de temperamento imprevisível e até mesmo os com comportamento anti-social. Abel, brasileiro que é, transita bem por quase todos os círculos. Ele abre o cadeado da velha porta de madeira de um galpão e mostra os bens que acumulou em sua permanência na comunidade: computadores, eletrodomésticos e utensílios diversos. "Os dinamarqueses jogam muita coisa nova fora, é só andar por aí e achar", conta. "Já tentei até doar uma parte para o Brasil, mas é complicado. Vai ficando tudo por aqui mesmo."

 

Culturalmente, a cidade é um organismo pulsante. Atuações nas áreas teatral, musical e nas artes plásticas são freqüentes, assim como atividades políticas de guerrilha, nas quais o christianista dá vazão ao seu engajamento. Meditação e ioga são unanimidades locais, mas não impedem um gosto pela vida boêmia. O local mais movimentado da noite de Christiania não poderia ter outro nome que não Woodstock, um arremesso violento 40 anos para trás no tempo. Sobre o palco logo na entrada, um elo perdido do Grateful Dead despeja um repertório carregado de reverberação e lisergia. Bancos de madeira para quatro ou cinco clientes dispõem-se em frente a mesas sobre as quais já se derramou muita cerveja. Nesses bancos se faz como o público daquele bar: apóia-se à frente de alguma garrafa, deita-se sobre o banco para dormir, ou simplesmente senta-se lado a lado com um estranho. Beber sozinho é um convite à companhia de alguém disposto a discorrer sobre aquecimento global, economia mundial ou a resistência dos países de Terceiro Mundo. Quase 70% dos habitantes têm entre 30 e 59 anos. São mulheres sozinhas, velhos roqueiros de rosto desfigurado pelas drogas, turistas extasiados pela suposta liberdade não vigiada. A placa na parede não nos permite esquecer das quatro regras definitivas de Christiania: "No to Hard Drugs, Rocker Badges, Weapons and Violence" (não às drogas pesadas, distintivos, armas e violência).

 

Apesar de não ser bem-vinda, a polícia circula livre. Em uma noite de domingo no fim do outono, meia dúzia deles marchavam em fila próximos a um prédio residencial. A movimentação apática dos homens de azul resultou na detenção de um homem, provavelmente um traficante de haxixe. Na Dinamarca, a "Politi" também não consegue (ou não quer) pescar os peixes grandes.

 

"A polícia revista quem entra na cidade. Ficam na ponte na tentativa de conter o tráfico, mas é como se não houvesse o que fazer. É um lugar em que as liberdades individuais parecem existir, mas há uma estranha sensação de vigilância no ar", diz o jornalista argentino Edgardo Martolio, que esteve na cidade em 1978, 79 e em 2005. "Nos anos 70, era uma cidade anti-higiênica, feia e bagunçada, nem parecia a Europa. Hoje, a organização é maior, a limpeza também. De um certo modo, os moradores se civilizaram, o que dá mais força à experiência", conta.

 

A alcunha "freetown" (território livre) soa como ironia: a construção de novas casas é proibida dentro dos limites de Christiania, e há muito tempo não há espaço para novos moradores. Interessados em aderir precisam esperar por um espaço vago em uma habitação já existente. A burocracia é maior do que se poderia esperar - um demorado processo de inscrição, seguido de entrevistas com inquilinos. A espera por uma vaga costuma demorar.

 

É difícil afirmar hoje se o local algum dia chegou a representar uma alternativa de vida oposta ao Estado dinamarquês. Seja como for, mochileiros, hippies, andarilhos e imigrantes ainda enxergam na cidade um abrigo. A principal atração turística da capital é a perfeita representação do modo de vida liberal da Dinamarca, apesar de os contrastes entre a Christiania de hoje e a Copenhague de sempre terem se diluído pela crescente mercantilização da cultura hippie, pela leva de imigrantes em busca de melhores condições de vida e pela errática imagem do bairro como um dos paraísos europeus das drogas. Substâncias pesadas como heroína, cocaína e anfetaminas foram expurgadas da região em 1979, em um movimento coletivo que baniu viciados e traficantes. Determinou-se que a maconha e o haxixe seriam os únicos entorpecentes ali tolerados, em uma decisão que fez de Christiania o mercado número 1 de haxixe da Dinamarca, alcançando mais de US$ 300 milhões por ano em rendimentos. Para inibir

a negociação da droga, um esforço conjunto do governo e da polícia se deu na forma de batidas, ações coibitivas e ordens de prisão. A perseguição persistiu até 2004, quando os moradores optaram por impedir a venda das substâncias dentro de seus domínios. O comércio ilegal prossegue em nível menor. O que não diminuiu foi a repressão na região, em atitudes condenadas pela opinião pública pela dureza com que são executadas.

 

O tenso conflito com o governo dinamarquês perdura desde 1971. Apesar de ter aceito a existência de Christiania como um "experimento social", planos são elaborados constantemente visando a legalização e a normalização da área, em um infindável litígio que tem favorecido os resistentes christianistas. A sociedade dinamarquesa abraça o tema e se divide entre tolerar Christiania, protegê-la ou rejeitá-la. Os opositores, em menor número, alegam que os moradores da cidade livre não pagam impostos pela área supervalorizada que ocuparam, e que o local abriga e facilita o tráfico de drogas. Em sua defesa, os christianistas alardeiam que pagam impostos mais altos do que o cidadão de Copenhague. "Christiania é uma sociedade alternativa formada por pessoas que não querem viver da mesma maneira que as pessoas normais, e também uma sociedade formada por pessoas que não conseguem viver bem em uma sociedade normal", define o jornalista Hans Drachmann, do tradicional jornal liberal Politiken, um dos odiados pelos christianistas. "Mas a maioria não quer que Christiania acabe. O dinamarquês gosta de sentir que há abertura na sociedade para este tipo de iniciativa."

 

No parlamento dinamarquês, o apoio a Christiania é tradicionalmente maior entre os partidos de centro e esquerda. Desde 2002, a Dinamarca é governada pelo Partido do Povo Dinamarquês, composto por conservadores e liberais, inimigos históricos da cidade livre. Apresentado pelo governo no final de 2006, o novo projeto de regulamentação de Christiania teve aprovação da maioria do parlamento, inclusive de partidos historicamente contrários a tais proposições. O projeto condiciona a manutenção de Christiania a certas medidas, como a liberação para construção de novas casas, o pagamento de aluguel por todos os moradores de Christiania, a abertura das fronteiras para as pessoas que lá quiserem viver, além daquela tida como a mais controversa de todas: se o projeto vingar, todas as leis da Dinamarca passariam a servir também aos cidadãos da comunidade.

 

É razoável afirmar que Christiania passa pelo momento político mais delicado de sua história. Acusada por seus opositores de ser uma sociedade cada vez mais fechada e intransigente, que não permite nem a permanência de novos residentes e não aceita se submeter a novas regras, a cidade livre também não conta mais com o suporte irrestrito de quem sempre a apoiou. A magia começa a se perder até mesmo para quem largou tudo em nome da causa. "Christiania é um pedaço indissociável da Dinamarca, mas nem é mais tão especial assim", lamenta o morador Karsten Schubmann. "O que a destaca é a sua intenção de ser algo auto-gerido, sem a rigidez do aparato burocrático. Mas coisas ficam mais engessadas a cada dia."

 

O prazo para os christianistas se declararem contra ou a favor das propostas do governo dinamarquês se esgota ainda este mês. Seja o resultado qual for, o futuro de Christiania promete passar distante dos utópicos mandamentos propostos por seus idealizadores. Se muitas de suas características se perderam no tempo, pelo menos permanece intacto seu status de santuário contemporâneo da paz, do amor e da liberdade.

 

O sonho, por enquanto, ainda não acabou.

 

Fonte:

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Christiania, também conhecida como Cidade Livre de Christiania (em dinamarquês: Fristaden Christiania) é uma comunidade independente e autogestionada localizada na cidade de Copenhaga, Dinamarca, com cerca de 850 habitantes, cobrindo uma área de 34 hectares, no bairro de Christianshavn na capital dinamarquesa Copenhague.

 

As Autoridades publicas consideram Christiania como uma grande comuna, uma área de um status único na medida em que é regulada por uma lei especial, a Lei de Christiania, a lei de 1989, que transfere partes da supervisão da área do município de Copenhague para o estado. Christiania tem sido uma fonte de controvérsia desde sua criação, numa área militar em 1971. O comércio de cannabis foi tolerado pelas autoridades até 2004. Desde então, as medidas para normalizar o estatuto jurídico da comunidade levaram a conflitos, e as negociações estão em andamento. A antiga área recém abandonada de bases militares de Badsmandsstraedes Kaserne, localizada nas proximidades de Christianshavn, um subúrbio da capital dinamarquesa, foi ocupada em 1971 por alguns milhares de hippies, anarquistas, artistas e músicos, como uma forma de protesto ao governo da Dinamarca.

 

Naquela época, muitas pessoas provenientes de diversas grandes cidades dinamarquesas sentiam-se traídas pelo governo, acreditando haver certo descaso quanto ao sistema habitacional por parte dos políticos e seus representantes. Os primeiros ocupantes da área que mais tarde viria a ser nomeada de Christiania tinham como ideal comum a rejeição a certos valores morais e convenções sociais e, principalmente, aos ideais capitalistas que assolaram a Europa no contexto pós-Segunda Guerra Mundial. Os habitantes de Christiania também queriam um espaço verde e aberto, para que pudessem criar seus filhos longe do crescente tumulto de Copenhaga.

 

O espírito da comunidade de Christiania foi logo permeado por valores anarquistas e do movimento hippie, num contraste com a idéia original de ocupar a área como um mecanismo de defesa e refúgio.

 

Tentativas judicialmente legais feitas por órgãos estatais para a retirada dos habitantes de Christiania (tidos como "indesejáveis perturbadores da paz e da ordem" pelos outros moradores de Christianshavn e Copenhaga) fracassaram devido ao enorme número de pessoas e à enormidade da área ocupada. Seus moradores passaram então a tratar Christiania como uma „Experiência Social“, até que o uso e o destino das terras fosse finalmente decidido. Em contrapartida, os ocupantes consentiram em arcar com as despesas de água e energia eléctrica.

 

Os actuais moradores de Christiania referem-se a si próprios como moradores de uma cidade livre, administrativamente independentes das autoridades nacionais. Moradores ainda mais formais tratam Christiania como uma Comunidade Autónoma.

 

Christiania oferece uma infinidade de atracções artísticas e intensa vida cultural. A arquitectura individualista e pitoresca, bem como a planta da comunidade são as expressões e marcas de um estilo de vida alternativo lá representado. Todos os tipos de serviços passaram a ser introduzidos e oferecidos à população ao longo dos anos: desde a recolha de lixo e limpeza das ruas, até serviços de correio e escola. Não há contratos de aluguéis nem propriedades de imóveis, de modo que cada um mantém uma relação muito pessoal com a casa a qual habita. A solução de conflitos e problemas comunitários é feita democraticamente e baseada em consenso geral, de modo que cada indivíduo possui responsabilidade na manutenção da ordem no âmbito da comunidade. Não existe polícia, portanto reuniões e encontros de caráter diverso são organizados com o objectivo de se tomar decisões em favor da comunidade e de se propor intervenções quando se fizer necessário, podendo um membro receber como „Penalidade Máxima“ a exclusão permanente da comunidade. Não obstante, parte dos habitantes não pertencem integralmente à comunidade, e muitos trabalham inclusive além das fronteiras de Christiania, pagando impostos regularmente ao governo dinamarquês – e, ao mesmo tempo, parte à administração da cidade livre.

 

Carros e as chamadas "drogas pesadas" tiveram que ser proibidos em Christiania, devido ao cerco e difamação inferidos pelo governo dinamarques. Já o consumo de drogas tidas como "leves" passou a ser tolerado dentro dos limites da comunidade há cerca de trinta anos pelo governo dinamarquês. Entretanto, em 16 de Março de 2003, autoridades evacuaram a rua Pusher Street, que se tornou conhecida como ponto de venda de maconha – uma atracção turística –, e prenderam mais de 50 negociadores da erva.

 

Fonte:

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Eu concordo que Anarquia não é utopia, mesmo não me considerando Anarquista.. Acredito que sim é possível montar uma sociedade da qual você

não teria que buscar o conselho de regras e regimentos para poder fluir ( Olha eu contradizendo o Thomas Hobbes e o Estado), Contudo a criação

de algo deste tipo, ai sim pode ser complexo... não diria utópico, mas de difícil entendimento, uma vez que você teria que levar em conta que cada um dentro dessa sociedade teria que chegar a um entendimento unanime..

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Quem quer saber?

 

Já sabemos que você é anarquista.

 

Boa parte das pessoas usam o arJumento "ANARQUISMO É UTOPIA! YEAH GOD SAVE USA!". Porém quero desmentir isso.

 

Duvido os direitosos comentarem no tópico!

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