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Meu relato sobre os protestos de ontem


-SLIPKNOT-
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Escrevi isso no meu facebook, participei da manifestação de ontem em minha cidade, e foi isso que eu vi:

 

Pois bem, ontem, saindo de casa, resolvi ir para o protesto a pé, pois sabia que, possivelmente, os ônibus naquele horário (eram umas 4 horas) nem estariam funcionando. No caminho, uma mulher passou por mim com uma cartolina, me perguntou se eu estava indo para o centro, disse que sim, perguntei se ela ia participar da manifestação, ela respondeu que sim, e perguntei se ela queria ir comigo até o centro, ela aceitou meu convite, e fomos juntos até o largo do rosário. Durante o caminho, nos deparamos com muitas pessoas que também estavam indo na mesma direção que a gente, muitos estudantes do anglo Castelo que estavam indo em grupos em direção ao centro.

 

Chegamos no Largo do rosário umas 4:40, havia gente pra ******* lá, até brinquei com a mulher dizendo que iria tentar encontrar alguns amigos meus pelo evento, mas que, muito provavelmente, não acharia ninguém, por que o número de pessoas que estavam no Largo e também ao redor do Largo era simplesmente incontável, havia MUITA gente. Ficamos alguns minutos perto de uma banquinha, a mulher ligando pra filha dela, eu tentando achar alguém que eu conhecesse. Após algum tempo, ela disse que iria para outro lugar procurar a filha dela, eu me despedi dela e fui até o Giovaneti, pois lembrei que o Flávio Lamas tinha combinado de se encontrar com o pessoal da "causa animal" lá. Fiquei lá esperando quase uns 10 minutos, ninguém apareceu, resolvi dar uma volta pra ver se achava algum conhecido. Vi algumas pessoas que conhecia, mas nada falei com elas, quando as via, via-as longe e não dava pra atravessar aquele matagal de gente somente para ir dar um "oi" para alguém. Depois de dar uma volta rápida pelo Largo, voltei para o Giovaneti. Poucos minutos depois, a Mariana Dandara apareceu com uma amiga dela, conversamos brevemente, logo em seguida as duas saíram dali e eu continuei no Giovaneti esperando por alguém ou algum grupo. No meio de tudo, achei o Jeff, falei com ele rápido e dei mais uma volta pelo Largo, dessa vez, uma volta maior do que antes, mas não consegui achar mais ninguém que eu conhecesse. Voltei para o Giovaneti.

 

Enquanto isso, o número de pessoas que se aglomeravam no Largo era cada vez maior, assim como o número do cartaz. Fiquei observando o que estava escrito nos cartazes, havia coisas do tipo "Fora Dilma", "Fora Feliciano", "Passe Livre já", etc. Ou seja, os cartazes confirmaram um fato que eu já sabia: Nesse protesto, cada um estava indo por uma causa diferente, não havia um motivo central para estarmos ali. Logo me lembrei que não sei quem (não me lembro agora) famoso disse que não sabia o "por que" das manifestações, e me lembrei também que esse "não sei quem" foi muito reprimido por sua declaração. Ao meu ver, esse "não sei quem" estava totalmente correto, não havia um objetivo central para estarmos ali, cada um erguia uma bandeira diferente. Mas eu já sabia que isso ia acontecer. Alguns abriam latas de cerveja, e fui aí que tive a certeza de que, para alguns, aquilo era festa, e não manifestação.

 

Após alguns minutos, achei o Flavio Lamas e me juntei ao grupinho dele, havia cerca de 10 pessoas no grupo. Fiquei parado com eles até o início da manifestação, quando saímos de onde estávamos e nos juntamos ao "povão" que já estava em movimento. Estava bonito, não nego, nunca tinha visto tanta gente junto em prol de "algo maior" (embora eu sabia que não havia um objetivo específico para aquilo tudo). Durante a passeata, várias pessoas estavam tirando fotos, outras, dos prédios, nos saudavam. Cantavam hinos, e era bonito, porém, cada hino tinha um tema diferente, estava mais do que óbvio que a causa central daquela manifestação já havia perdido-se em meio a tantas reivindicações e revogação do aumento. Fui carregando meu cartaz e fiquei junto do Flávio e cia, durante o caminho, achei vários amigos, como o Diego Ribeiro, mas somente falei com eles brevemente, não podíamos parar para conversar, ainda mais em meio a tanta gente.

 

Quando estávamos chegando na prefeitura, todos pararam. A manifestação não ia nem pra frente nem pra trás. Começaram a correr boatos de que, lá na frente, a polícia estava atirando em alguns manifestantes, uma mulher me disse que um dos manifestantes atirara um rojão em um policial, e os policiais começaram a revidar. Alguns manifestantes começaram a falar para irmos ao centro de convivência, porém, logo surgiram boatos de que a polícia também estava lá e de que lá havia fogo e bombas. Várias vezes, nos agachamos e ficamos no chão, em sinal de que a maioria não queria violência. De repente, algumas pessoas começaram a correr e recuar, admito que tomei um susto, pois achei que a polícia tinha jogado uma bomba lá no meio. Alarme falso.

 

Fiquei com o Flávio e cia mais alguns minutos. Não sabíamos o que fazer, o clima era de hesitação. Decidi que iria lá na frente para ver o que estava acontecendo (estava mais no "meio" da manifestação", queria ver se achava mais algum amigo meu e, acima de tudo, queria ver o que estava acontecendo, se realmente a polícia estava atacando e se havia vandalismo. Saí de onde estava, comecei a avançar. No caminho, encontrei alguns amigos, como o Lucas Guimarães Felipe e o Vinicius Silva, conversamos brevemente, logo voltei a avançar. Novamente, encontrei o Diego, que me mostrou o cartaz dele, onde estava escrito "O governis ta erradis". Ri. Avançamos mais um pouco. Quanto mais avançávamos, mais o gás de pimenta ficava evidente e o lacrimogênio intensificava-se. Começaram a surgir várias pessoas chorando, o clima lá era bem mais tenso do que no meio da manifestação, onde eu estava antes.

 

Subimos uma rua e lá ficamos, já que, há poucos metros de distância dali, explosões ocorriam, realmente, estavam acontecendo confrontos. De repente, jogaram uma bomba de lacrimogênio bem onde nós estávamos, saímos correndo e recuamos. Pediram para sentarmos, em sinal de que não queríamos violência, nos sentamos. O Diego ficou lá, eu queria avançar, não por que queria briga, mas sim por que eu queria ver com meus próprios olhos o que estava acontecendo.

 

Tive de cobrir o nariz, lágrimas começaram a brotar em meus olhos, o gás era intenso. Finalmente, cheguei na "linha de frente" do protesto, e vi que, talvez, a polícia tinha motivos para repreender os manifestantes: Em meio a tanta gente, havia uma fogueira e várias coisas quebradas, mas isso não se compara ao que estava por vir. O clima era tenso, pessoas gritavam e xingavam os policiais que estavam defendendo a prefeitura. Alguns jogavam pedras neles, eram repreendidos por alguns manifestantes, mas mesmo assim continuavam, realmente estavam dispostos a entrar em confronto com a polícia.

 

Subi a rua, também havia uma grande quantidade de pessoas ali. A polícia mantinha-se em frente a prefeitura, atirando bombas no manifestantes, e eu subia a rua e ia em direção à biblioteca da prefeitura. Lá, achei a Carol Atauri e o Thiago d'Almeida, nos cumprimentamos e a Carol perguntou o que eu estava achando do movimento. Não me lembro direito do que respondi, mas me lembro que não respondi exatamente o que eu queria responder, em meio ao caos, não consigo pensar direito. Mal tivemos tempo de conversar, a tropa de choque apareceu e começou a descer a rua onde estávamos: Muitos entraram em pânico. A maioria saiu correndo e entrou em alguma rua que havia ali onde estávamos, eu até pensei em correr, mas não fiz isso, eu queria ver o que ia acontecer, queria tirar minhas próprias conclusões sobre a polícia e o que estava acontecendo. Vários carros da polícia também começaram a descer a rua, observávamos. Alguns "cidadãos" jogavam pedras na prefeitura e nos carros da polícia, pedíamos para eles parar, mas eles não paravam. A tropa de choque ficou perto do ponto de ônibus da prefeitura, por enquanto, o caos estava espalhado, mas não havia muitas bombas explodindo.

 

Eu observava, não gritava e não apoiava ninguém, só queria ver o que ia acontecer. De repente, bombas começaram a explodir, não onde eu estava, mas sim na avenida em que a maioria dos manifestantes estavam, o pânico começou. Vários manifestantes pediram para que parassem com as bombas, já que eram poucos os que jogavam pedras nos policiais, porém, o número de pessoas que revidava aos ataques dos policias foi aumentando. De repente, percebo que, em meio onde eu estava, vários, aliás, MUITOS, começaram a jogar pedras na prefeitura.

 

"Para *******, não joga pedra", dizia eu e mais outras pessoas para eles. Mas eles não paravam. De repente, bombas começaram a voar em nossa direção e o as lacrimogênio começou a se instalar no ar. Corri, mas respirei muito gás e tomei muita pimenta, meus olhos estavam quase transbordando de lágrimas. Continuaram jogando pedras na prefeitura, avancei e voltei onde estava, a avenida estava caótica, o barulho era ensurdecedor. Mais bombas vieram voando em minha direção, porém, dessa vez, elas chegaram muito perto de onde eu estava, inalei bastante lacrimogênio e tomei muita pimenta, comecei a chorar, estava difícil manter os olhos abertos em meio a tanto gás. Infelizmente, percebi que havia um cara em cima do telhado de um monumento (ou escola, não sei ao certo o que é aquele prédio que fica do lado da prefeitura) e esse cara jogava as telhas do prédio no chão, além de jogar pedras nos policias. Gritei para que ele parasse, mas, assim que ele parou, apareceu outro problema: Dois caras estavam prestes a brigar e, de repente, um deles tirou uma faca da bermuda. Pensei em entrar ali no meio e pedir que eles parassem, mas não foi preciso, eles se distanciaram, mas o cara com a faca continuou a segurá-la.

 

Avancei, voltei onde estava, mas meus olhos não estavam aguentando, tive de recuar, estava difícil até de respirar. O número de manifestantes depredando coisas e jogando pedras na prefeitura subiu, os vidros da prefeitura foram os que mais sofreram.

 

Voltei para perto da prefeitura, os policiais disparavam bombas na avenida, os "vândalos" jogavam pedras na prefeitura e os manifestantes recuavam e avançavam em meio a tanto gás. Os policias estavam na faixa da esquerda da avenida, atirando. Inesperadamente, uma mulher ajoelhou-se perto deles e fez o símbolo da paz com as duas mãos. No início, hesitei, mas após alguns segundos me juntei a ela, me ajoelhei e gritei "Sem violência" para os policiais. Mais pessoas se juntaram a nós, pedíamos que os policias parassem de atirar e que os manifestantes parassem de jogar pedras. Parece que deu certo (guardem esse parece): Os policias pararam de atirar e mais pessoas se juntaram a nós. Percebemos o sucesso, fomos para frente dos policias e nos ajoelhamos novamente, mais uma vez pedimos "Sem violência". Os policiais começaram a recuar, os hinos ficaram mais fortes e muitos tiveram a sensação de que estávamos vencendo. Os policiais recuaram até o último degrau da escada da prefeitura, lá pararam. Os gritos dos manifestantes ficaram mais fortes, assim como os hinos, muitos sentiram que o protesto realmente estava tendo resultados e que a polícia havia recuado voluntariamente. Um dos manifestantes falava com um dos policiais, que dava instruções para ele sobre o que nós deveríamos fazer para não atirarem em nós.

 

Um cara que estava ao meu lado começou a conversar comigo, disse que aquilo sim era um movimento bonito e que, naquele momento sim, as coisas estavam bonitas, e, de fato, estavam. Alguns meliantes voltaram a jogar pedras nos policiais, pedimos que eles parassem, todos falaram juntos para que eles não mais jogassem pedras nos policiais. De repente, um cheiro insuportável começou a invadir o ar, era algum gás. Meus olhos voltaram a lacrimejar e senti vontade vomitar. O cara que estava ao meu lado viu minha tatuagem da rosa e perguntou a quanto tempo eu tinha feito ela.

 

"A uma, cof cof", tive de parar. "Uma cof cof", parei novamente, não conseguia falar, o gás me impedia. Fiz "um" com os dedos da mãos, "Uma semana?" ele perguntou, eu balancei a cabeça, para dizer que sim, não conseguia falar nada, meus olhos voltaram a chorar e quase vomitei. Pedras voltaram a voar, mas dessa vez elas atinjiam a nós mesmos, manifestantes. As coisas estavam começando a piorar, o ápice foi quando uma bomba explodiu perto dos policias (me falaram que a bomba veio deles mesmos, com o intuito de justificar nos atacar, mas não sei se é verdade, só sei que uma bomba explodiu perto dos policiais e eu mesmo vi), aí as coisas foram de mal a pior: Os policais voltaram a atirar, tanto com bombas de efeito moral como também com bombas de gás lacrimogênio, o ar começou a ficar insuportável novamenente. Para o desespero de todos que estavam perto de mim, bombas foram atiradas em nossa direção, nós estávamos pedindo "Sem violência", mas, mesmo assim, os policiais atiravam em nós. Pedriam para nós sentarmos para mostrar que não queríamos briga, porém, para o nosso desespero, bombas vieram em nossa direção, ainda mais perto do que as bombas que foram atiradas anteriormente. Senti medo, e esse foi o único momento da manifestação em que eu realmente senti vontade de sair correndo dali, as bombas estavam perto demais, a menos de dois metros de onde eu estava, todos começaram a recuar, mas eu continuei lá, até que os policias começaram a descer as escadas e jogaram gás lacrimogênio onde estávamos, aí não deu, tive de sair correndo, o desespero era geral.

 

Sem dó, jogaram bombas na avenida, em todas as direções, saí da frente da prefeitura e fui "dar uma volta" para ver como estavam as coisa. O cenário era de destruição, os pontos de ônibus estavam vandalizados, havia lixo pra todo lado, uma fogueira ardia no meio da rua e o bando Bradesco, que fica na frente da prefeitura, estava com os vridros pixados. Caminhei mais um pouco, mas percebi que a destruição não acaba por aí: Havia até poste caído na rua, tudo, simplesmente TUDO já havia sido vandalizado de alguma maneira, e percebi que sim, os policias talvez tivessem motivos para atirar bombas em nós. Voltei para frente da prefeitura, onde havia menos gás e um grupo de manifestantes reunia-se. Mais uma vez, gritamos "Sem violência", porém, após alguns poucos minutos, mais bombas e gás voaram em nossa direção, perdi a calama e começei a gritar "PRA QUE?" para os policiais.

 

Bombas e gás voavam para todos os lados, para a esquerda, direita e até para onde eu estava, algumas pessoas abrigavam-se dentro do Bradesco, pois sabiam que os policiais não atacariam lá. Voltei em direção à frente da prefeitura, tivemos um tempo de trégua, pararam de atirar em nós, por alguns minutos, porém, logo voltaram. Vi o cara que tinha falado comigo na escada da prefeitura (o que falou comigo sobre minha tatuagem) ser atingido no pé por uma bomba, saiu mancando e teve de entrar no Bradesco, não sei se o pé dele estava sangrando, mas vi que ele estava mancando.

 

Eu já estava cansado, não só do gás e das bombas, mas também de tudo aquilo: Da destruição, das pessoas que jogavam pedras nos policiais, dos policias que fortemente revidavam ao ataque de poucos. Sentei- me na calçada, junto com outros manifestantes que estavam igualmente cansados. Pegaram uma grande faixa branca, ela pixaram "Paz". Ficamos sentados, alguns xingavam os policiais, outros conversavam, eu observava e conversava com um cara que estava ao meu lado. Um cara tirou uma foto minha, porém, assim que ele terminou de tirar a foto, vi que, bem atrás dele, um dos policiais estava com uma bomba na mão e preparava-se para tirar, gritei "Corre". O cara não teve tempo de correr, acho, só sei que eu corri e, poucos segundos depois, ouvi a bomba explodindo, começei a xingar os policiais e chamei-os de "facistas" e "covardes". Naquele momento, ao meu ver, não havia motivo algum para aquilo. Nos reagrupamos, ficamos em frente à faixa escrito "paz". Xingavam os policiais, alguns jogavam pedras neles, eu não fiz nada, mas admito que estava com raiva dos policiais, que continuavam atirando bombas e gás no outro lado da avenida. Poucos minutos depois, mais bombas foram atiradas em nossa direção, não estávamos fazendo nada, apenas pedidndo "Sem violência", mas mesmo assim fomos alvos. Começamos a chamá-los de "marionetes" (embora eu saiba que não é bem assim) e voltamos onde estávamos.

 

Eles atiravam, nós desagrupávamos e, pouco depois, nos reagrupavamos, e durante vários minutos foi assim. Xinguei-os bastante, não dava para pensar nos policiais quando eram eles mesmos os que estavam jogando bombas e atirando em nós, mesmo o nosso grupo sendo formado por pessoas que não queriam violência.

 

"PRA QUE?" foi o que eu mais gritei. Naquele momento, achava que não havia necessidade daquilo tudo, não que não houvesse uma justificativa, mas, ao meu ver, ela estava sendo super explorada. Chegou um ponto em que começamos a ser sarcásticos: Começamos a aplaudir os policiais e fazer símbolos de "joinha" com as mãos, dizíamos que eram covardes e que estavam atirando neles mesmos. E assim seguiu-se por um bom tempo, recuando, voltando, reuando, voltando.

 

Estava ficando tarde, era por volta de umas 9:20. Sabia que o "protesto" não havia acabado, mas os manifestantes já estavam dispersados demais para tentar fazer qualquer coisa. Eu não tinha visto, mas parte dos policiais estavam perto do ponto de ônibus da prefeitura, de lá atiravam em direção à avenida. Fiquei perto deles, observando-os, mas não os xinguei, embora um dos policiais aportasse a arma para mim. Outras pessoas se juntaram a mim, elas queriam subir a rua e sair dali. Como formamos uma aglomeração, atiraram em nós (essa estava sendo a regra, formou um grupo, bala em vc), mais uma vez, voltei a correr, só que, pro meu espanto, bombas e glás lacrimogênio foram tirados na direção em que nós corríamos, uma das bombas explodiu tão perto de mim que fiquei sem nada ouvir durante dois ou três segundos, tive de entrar no Bradesco, o gás lacrimogênio infestava toda a avenida.

 

Após alguns minutos, voltei. Estava pensando em ir embora, já não havia mais motivo algum para continuar lá. Novamente, fui em direção aos policiais que estavam na avenida, porém, um grupo foi comigo, resultado: bombas em nós, sendo que, uma das bombas, que, Thank God, era "só" uma bomba de lacrimogênio, me atingiu na barriga. Mais uma vez, Thank God, a bomba já tinha kikado duas vezes no chão antes de me atingir, e acho que isso fez com que ela perdesse a força, pois ela doeu, mas não tanto quanto eu pensava que ia doer, fiquei na frente do banco e mais uma vez li o "ACAB" pixado nos vidros do Bradesco.

 

Não tinha mais motivos para estar ali, já tinha tomado minhas próprias conclusões, então saí dali, mas tive de atravessar o gás lacrimogênio para fazer isto. Andei um pouco, havia muita gente no centro, muita, mas muita mesmo. Um cara veio me pedir alguns trocados, disse que precisava pegar um ônisbus para Serra Negra e ninguém o ajudava. Eu só tinha uma noca de cinco no bolso, que ia utilizar caso sentisse sede, mas não havia nada aberto àquela hora. Encontrei com mais um amigo, o Daniel Smanio, mas pouco falei com ele, queria logo resolver a situação do cara que estava comigo. Menti, disse que só tinha uma nota de 20 reais no bolso e que não poderia dar dinheiro para ele, então, ele me pediu para que fossemos até uma farmácia que ficava ali perto para que trocássemos o dinheiro, e fomos. Chegando na farmácia, percebi que o vandalismo não se restrinjira ao patrimônio público e aos bancos: metade das coisas da farmácia estava no chão e o caixa vazio. Uma das atendentes da farmácia, nervosa, até me disse que, se eu quisesse levar qualquer coisa, era só pegar, pois estava saindo "tudo por conta da casa". Fiquei sem jeito pra falar com ela, aí bateu a consciência: "Por que não ajudar esse cara? Pode até ser que ele esteja mentindo, mas também pode ser que não". Dei meus cinco reais para ele, fiz algumas perguntas para ele, cuja resposta não me interessava, e me despedi dele. Voltei boa parte do caminho para casa a pé, várias pessoas estavam no ponto de ônibus, acho que devem ter esperado no mínimo uma hora no ponto, pois pouquíssimos ônibus passavam pelo centro. Em casa, tomando banho, comecei a sentir os efeitos daquela noite.

 

Se querem saber o que eu acho da manifestação: Os vândalos e bandidos foram vândalos e bandidos, a polícia foi a polícia, a tropa de choque foi a tropa de choque, os manifestantes foram os manifestantes, e o Brasil continuará sendo o Brasil.

Removido

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Nossa, você tá bem? D:

 

Não sei se te agradeço ou não pela criação desse tópico.

Não agradecer, porque você acabou com minhas poucas esperanças de mudança no Brasil.

Ou agradecer, por me fazer acordar e ver que o brasileiro é um povo de m., que merece o país que tem, e que eu tenho que fazer meu máximo pra sair dessa joça.

 

Acho que a segunda opção é a mais válida.

Então, obrigado.

Obrigado pelo print, Mikhail.

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Saudades de uma época que não volta.

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O correto seria Seu depoimento sobre o protesto. Uma vez que você falou, falou e só expressou sua opinião no final. -.-

 

Meu depoimento e opinião sobre os protestos

(Texto meio confuso e não segue exatamente a ordem cronológica dos fatos)

 

 

Nunca me filiei a nenhum grupo político, (seja de direita ou esquerda), fascista ou partidário.

Nunca me envolvi em quaisquer manifestações políticas, protestos ou qualquer coisa do tipo. (Embora no fundo eu soubesse e tivesse uma vontade instalada e engasgada no peito de tentar mudar me país. Digo, na prática mesmo.) Nunca participei nem dos movimentos estudantis e Grêmio da minha escola, diga lá o resto...

Pois bem.

Belo dia as coisas mudam. Tudo começou com 0,20 centavos. Mas nem era pelos vintes centavos... (Era pelo que mesmo?)

Pela TV eu presenciei pessoas e mais pessoas indo para as ruas protestarem por mudanças. Vi também essas mesmas pessoas sendo vítima do abuso e opressão. (Até então eu não entendia verdadeiramente o significado dessas duas palavras)

De fato eu me comovi. Eu chorei em frente à televisão. Pela primeira vez eu quis fazer parte dessa história. (Embora eu não soubesse muito bem onde me encaixar)

Salvador, (quinta feira), 20 de junho de 2013

Protesto marcado para as 14:00 perto do Teatro Castro Alves, no Campo Grande em direção à Fonte Nova. Cheguei lá por volta das 13:30 (juntamente com meu irmão e um amigo), no início haviam poucas pessoas e o movimento só começou mesmo por volta das 15:00. Foi bonito. Cantaram. Gritaram. Pediram "Sem violência!" Disseram não ao vandalismo. Levantaram seus cartazes. Vários cartazes. É bem verdade. Cada um tinha o seu. Cada um tinha um desejo, uma causa. Mas TODOS estavam ali por motivos em comum: Mudanças!

Ideologias diferentes, claro. Mas em que em nenhum momento convergiram entre si. (Meio irônico não?)

Disseram que eles não tinham causa. Deram a eles causas. Várias e várias causas. Se pecaram, não foi pela falta e sim pelo excesso.

Pois bem.

Eu realmente fui ingênua a ponto de acreditar que aquilo tudo seguiria pacificamente até o fim. Não por culpa dos manifestantes. (Gravem essa parte)

Seguimos o Campo Grande até os Barris em direção a Fonte Nova que era o nosso foco. Chegamos lá e demos de cara com o bloqueio dos policiais (Choque, Caatinga, COE, Rondesp e etc). Novamente o mesmo esquema. As pessoas avançaram e recuaram. Ficaram assim avançando e recuando. Mas sem nenhum vandalismo. Apenas músicas, gritos e palavras de ordem. Uma boa parte dos manifestantes sentaram no chão e gritaram Sem Violência!

Os polícias disseram que teríamos dez minutos para sair. Nós recusamos e eles começaram a avançar com bombas, gás e muitas balas. Todos correram. Só estávamos ali exercendo a PORRA dos diretos. Eles tiraram isso da gente. Eles tiraram nosso direito de protestar, direito de ir e vir. Porra, não é discurso!

(Uma coisa são policiai (mesmo que de maneira equivocada) é agir contra ação dos vândalos. Outra, amplamente diferente é agir contra pessoas manifestando de maneira extremamente pacífica.)

Eu estava lá. EU VI. Eu senti na pele o significado da palavra VIOLÊNCIA e OPRESSÃO! Eu vi jovem, criança, adulto, homem, mulher, pai e mãe de família! Eles não estavam nem aí. Avançando contra os manifestantes, estudantes fardados. Todo mundo correndo, se machucando.

Eles foram total filhos da **** covarde. Fazendo armadilha para ENCURRALAR o pessoal para lançar gás e bomba! Eles deixaram o pessoal passar, quando uma boa quantidade de pessoas passaram eles começaram a cobrir o pessoal de porrada! Mesmo. Os manifestantes que não passaram foram obrigados a recuar. Deixar as pessoas passarem para depois encurralar no meio do fogo cruzado. Eu nunca vi tamanha CRUELDADE por partes de policiais.

 

Eu estava bem antes do bloqueio. E ainda assim fui vítima.

Meu irmão chegou a me dar a camisa dele ensopada com vinagre por que eu não estava mais aguentando tanto, mas tanto gás. Velho, eu senti minha visão completamente embaçada. Não dava pra enxergar quase nada. As lágrimas caindo, e eu já não sabia se eram minhas ou efeito dos gases. Uma bomba explodiu bem do nosso lado e eu fui obrigada a tirar a camisa do rosto ou ia senti que ia sufocar.

No meio de muita correria, eu me perdi deles, e bem nessa nessa hora em meio a tanta fumaça, gás, sei lá.... Eu que ainda sou asmática comecei a tossir e passar mal. Pensei que ia desmaiar! Mais ou menos nesse momento, uma estudante de medicina me ofereceu leite de magnésio. (Sensação de alívio! Uh!) (Os estudantes da UFBA estavam ajudando e prestando socorro a essas pessoas) Sabe, eu agradeço a esta moça que eu sequer sei o nome. Ou eu não sei o que seria de mim nessa hora. Depois disso, eu vi que não dava mas pra mim. Não consegui me encontrar com mais ninguém e fui pra casa andando sozinha

Na volta eu percebi. A ******** era total e o cenário de guerra.

Pontos de ônibus e lixeiras quebradas. Banheiros químicos queimados. Tudo destruído.

O pessoal havia entrado em combate com a polícia. Posso dizer que não foi intenção dos manifestantes de bater de frente com a polícia. Mas diante de tanta violência é inegável que o povo se revolte. O pessoal começou a destruir os pontos. Perto de onde eu estava mesmo queimaram dois ônibus.

Queimar ônibus? Nosso patrimônio?

Não era a intenção. Não era até os policiais atacarem e agirem covardemente.

Chego em casa eu vejo lá... um amigo meu e um dos representantes do Grêmio posta no Face chorando que alguns alunos, colegas se machucaram no ato.

Ligo para meu irmão que já tinha voltado para o Campo Grande (Até então, estávamos - por mais que eu estivesse separada, também estava - no Politeama) Seguiu pelo Corredor da Vitória, em direção ao palácio do Governador, na Ondina. Onde teve mais tumulto e muito, muito mais violência! Muitos, muitos policiais. Alguns deles escondidos para pegar encurralar os manifestantes.

No Politeama tinha o carro do Governo da Bahia atirando (balas de verdade) para cima! Uma completa filha da putisse. E no Rio Vermelho mais ônibus queimados e tiros.

O que eu penso disso tudo.

Até ontem, eu não era muito diferentes de alguns. Apesar de tudo, eu não tinha uma causa bem definida e específica. Mas estava lá. Não gritei por nada, exceto sem violência.

Que fique claro que em todas as manifestações existem vários tipos de pessoas. Existem os manifestantes, os infiltrados, os vândalos, os bandidos, a moça do amendoim, o tiosinho da paçoca. Vocês sabem... Manifestando também é Manifestação. rç

Como se não bastasse tudo você ainda tem a MÍDIA. Algo bastante curioso é o fato de que em nenhum momento eu presenciei notícias sobre os protestos em Salvador. Apesar de eles terem sido bem INTENSOS e com ação extremamente incapacitada e violenta da polícia baiana. (OPS! Pausa: Jornal Nacional. 21 de junho, 21:23. Um minuto dedicado aos protestos em Salvador com destaque "vandalização" ocorrida no Estado.

Como se não bastasse o momento de silêncio, dedicado a nós. A mídia a todo momento manipulando os números. Confundido as pessoas e despolitizando as manifestações. PORRA! As manifestações apesar de "apartidárias" tem um carácter de ESQUERDA! Estamos diante de um movimento político e não social.

"O gigante acordou!" Acordou porra nenhuma! Vocês que estiveram dormindo durante todo esse tempo! E não perceberam que pessoas antes de vocês também lutaram. Lutaram por liberdade de expressão. Conquistaram o direito ao voto e tiraram um presidente do poder...

Mas pra onde esse gigante tá indo?

Uma manifestação sem rumo abre espaço para aproveitadores e oportunistas. Sim, são minoria. Uma minoria muito perigosa por sinal

Protestante também tem que aprender a protestar! E polícia tem que aprender agir devidamente.

 

Galera, vamos protestar. Mas protestar contra o que mesmo?

Protestar contra tudo ao mesmo tempo é o mesmo que protestar contra nada! A coisa mais clara que vi foram a revogação das tarifas. Mas nem por isso eu quero que pare. Eu penso que precisamos focar em um objetivo e lutar por ele.

 

 

Mudanças não ocorrem da noite para o dia. As maiores revoltas histórias já ocorridas duraram anos. Não vamos mudar anos de corrupção da noite para o dia... Fikdik.

 

Assim como existem cristãos e militantes

Existem vândalos e protestantes

Assim como Copa não se faz com hospital

Brasil não é só futebol e carnaval

Beleza atrai beleza.

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Nossa, você tá bem? D:

 

Não sei se te agradeço ou não pela criação desse tópico.

Não agradecer, porque você acabou com minhas poucas esperanças de mudança no Brasil.

Ou agradecer, por me fazer acordar e ver que o brasileiro é um povo de m., que merece o país que tem, e que eu tenho que fazer meu máximo pra sair dessa joça.

 

Acho que a segunda opção é a mais válida.

Então, obrigado.

 

To sim cara, apesar de tudo que aconteceu, porém, um dos meus ouvidos está com um zumbido que não passa desde quinta, estou com medo de que alguma coisa irreversível tenha acontecido com ele depois da explosão que ocorreu bem perto de mim... Se continuar, vou ter que ir num otorrino pra ver isso :[

 

O problema não é somente o povo, temos de nos lembrar, também, que o governo é o principal responsável pela alienação, ignorância e falta de "civilidade" de boa parte da população, sendo assim, há mais de um culpado nisso tudo.

Removido

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