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Pedágio: Reflexões Sobre Amor, Aceitação e Desespero
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O cinema brasileiro sempre se destacou por sua capacidade de retratar a realidade de maneiras únicas e profundas. O filme "Pedágio", dirigido por Carolina Markovic, é um exemplo recente dessa tradição. O longa, que tem conquistado a atenção tanto do público nacional quanto internacional, mergulha na vida de Suelen e seu filho Tiquinho, explorando temas complexos como aceitação, sexualidade e desespero. Suelen, interpretada magistralmente por Ma Jekins, é uma funcionária de um pedágio em Cubatão, vivendo uma vida marcada por dificuldades financeiras e relacionamentos problemáticos. Ela mora em uma casa simples, representativa de tantas outras espalhadas pelo Brasil, e tem um namorado desonesto que se envolve em pequenos furtos. Essa realidade já é complicada, mas se intensifica quando Suelen enfrenta um desafio ainda maior: aceitar a sexualidade de seu filho Tiquinho. Movida pelo amor maternal, mas também pela influência de uma amiga, Suelen decide colocar Tiquinho em uma terapia de conversão, na esperança de "salvá-lo". A dificuldade em aceitar o filho como ele é, combinada com a pressão social e o medo do julgamento alheio, leva Suelen a tomar decisões extremas. Para financiar a terapia, ela se envolve em atividades criminosas, ilustrando a profundidade do seu desespero. Tiquinho, por outro lado, representa uma abordagem muito diferente à vida. Ele é um jovem que se aceita plenamente, expressando sua identidade através de vídeos no Instagram e TikTok, onde dubla grandes divas da canção. Essa aceitação própria contrasta fortemente com a dificuldade de sua mãe em compreendê-lo, criando um cenário complexo de relacionamento familiar. O cenário de Cubatão é outro personagem vital na narrativa. A cidade, marcada por uma refinaria que prejudica uma das paisagens mais belas do país, a Serra do Mar, simboliza a dureza e as dificuldades enfrentadas pelos personagens. A direção de arte do filme merece destaque por transformar esse cenário em algo quase poético, apesar de sua feiura intrínseca. O filme também aborda a vulnerabilidade das pessoas, mostrando como elas podem se tornar influenciáveis devido à falta de apoio e estrutura social. Esse tema é enfatizado pela maneira como Suelen é convencida a colocar seu filho na terapia de conversão e como ela retorna ao namorado por falta de alternativas melhores. Interessante notar é a sutileza com que o filme lida com temas como religião e preconceito. A palavra "Deus" é raramente usada, mesmo em um contexto onde se esperaria sua presença frequente. Essa abordagem evita clichês e estimula reflexões mais profundas sobre fé, esperança e a realidade de um mundo que muitas vezes parece desprovido de ambas. "Pedágio" é uma obra que reflete sobre as complexidades do amor, da aceitação e do desespero. Através de uma narrativa envolvente e personagens bem construídos, o filme convida o espectador a uma jornada emocional que é ao mesmo tempo específica e universal. É um lembrete da força do cinema nacional em contar histórias que ressoam com a realidade de muitos, ao mesmo tempo em que oferece uma perspectiva única e profunda sobre temas universais.